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Xico Sá

Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo). É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

A volta de Nelson Rodrigues ao país de Malafaia e Arthur Lira

O pastor que ficou com a noiva do fiel, a ex-mulher do presidente da Câmara em confissão reveladora e outros episódios no país dos hipócritas
18/06/2024 | 14h24

“O cara queria casar com a namorada, o pastor disse para ele esperar `porque Deus tinha algo grande para ele´. No fim, ele descobre que ela o estava traindo com… o pastor!”

Essa breve historinha real, postada no “X” (com direito a vídeo-confissão) pelo amigo Andrade, professor evangélico de Juazeiro da Bahia, me fez entrar na campanha “Volta, Nelson Rodrigues”. Só o homem de “A vida como ela é” seria capaz de escrever a crônica do país da hipocrisia pronta.

O país que tenta aprovar no Congresso, com a mesma hipocrisia do pastor da historinha nada romântica, o PL do Estupro.

O projeto de lei que ganhou prioridade parlamentar em 24 segundos no relógio de Arthur Lira, o presidente da Câmara que poderia, segundo sua ex-mulher Jullyene Lins, passar horas e horas prestando contas à Lei Maria da Penha.

Volta, Nelson Rodrigues, mas antes escuta a própria Jullyene, no seu mais recente depoimento:

“Agredida, violentada, ameaçada, censurada, coagida, além de sofrer crises corriqueiras de pânico, e se tudo isso não bastasse, ainda sou perseguida pelo seu Gestapo institucional que não compartilha provas, não investiga, não julga processos, apenas engaveta tudo que possa expor esse chantagista! O fora Lira será ainda maior, pretendo detalhar com muitas provas, documentos e áudios tudo que for possível, para desmascará-lo, agora sem medo de morrer, devido a grande repercussão de quem de fato é esse covarde! Jamais perderei a esperança de que um dia, se fará justiça, e quem sabe não consigo até ajudar a PF a encontrar o verdadeiro dono dos 4 Milhões abandonados até hoje nos cofres da instituição?”.

A ex-mulher de Lira postou esse texto, nas redes sociais, 1h24 da madrugada do dia 15 de junho de 2024. Antes, havia feito as acusações — apontando episódios de violência e corrupção do ex-marido — em entrevistas ao ICL Notícias, Agência Pública, Congresso em Foco, UOL e De Olho nos Ruralistas.

Parte desse material, caso das reportagens da Pública e do Congresso em Foco, foi censurado por juízes do Distrito Federal, a pedido do presidente da Câmara.

Volta, Nelson Rodrigues, afinal de contas, por trás de todo paladino da moral vive um canalha. Um cara do tipo que pega a namoradinha do servo mais fiel da igreja, sob a inescrupulosa picaretagem de que Deus tem “algo grande” para ele.

Volta, tio Nelson, só por um instante, mira a fuça de sepulcro caiado do deputado Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ), o autor do PL do Estupro, cria bíblica da costela do milionário Silas Malafaia.

Como te pedi, certa vez, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, em visita ao teu túmulo (provo aí na foto acima), volta, meu estimado cronista.

Aqui vale um intervalo para a pergunta de hoje do presidente Lula: “Quero saber se uma filha dele (Sóstenes) fosse estuprada como ele ia se comportar. Por que uma menina é obrigada a ter um filho de um cara que estuprou ela? Que monstro vai sair do ventre dessa menina?”

Por essas multiplicações de hipocrisias, como a do pastor que corneava o fiel com a moça já vestida de noiva, é que o católico Nelson Rodrigues pregava: “Deus só frequenta igrejas vazias”.

Em tempo: o mesmo pastor traíra ainda ficou com 10% do valor do carro do moço. Cristão verdadeiro, o rapaz a tudo isso perdoou, resignado como a mais pura das criaturas terrenas. Sem precisar de palco ou de atores, tio Nelson, foi a mais sincera repetição da peça “Perdoa-me por Me Traíres”. Até a próxima.

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