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Andrea Dip

Jornalista investigativa e estudante de psicanálise. Autora do livro-reportagem “Em nome de quem? A bancada evangélica e seu projeto de poder". É pesquisadora na Freie Universität de Berlim e apresenta o podcast Pauta Pública na Agência Pública de Jornalismo Investigativo.

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2025: a geopolítica global na encruzilhada

Movimentações políticas vão decidir os próximos anos e a esquerda não pode dormir no ponto
01/01/2025 | 13h33

Feliz ano novo, cara pessoa que me lê. Sobrevivemos a 2024 e isso não foi pouca coisa, né?

Escrevo essa coluna de primeiro de janeiro aqui do meu canto frio do mundo (hoje em Berlim faz 3º) com um café quente na mão e a cabeça fervendo. 2025 vai definir o jogo político dos próximos anos e a vida de milhões de pessoas.

Nos Estados Unidos, Donald Trump inicia seu mandato com promessas de um futuro sombrio. Se compromete a atacar direitos de pessoas LGBTQIA+, direitos reprodutivos, e mudar políticas migratórias. Ameaça a OTAN e diz que vai acabar com a guerra entre Rússia e Ucrânia em um dia, sem explicar o que isso significa.

Também não é claro o posicionamento do novo presidente dos Estados Unidos com relação à invasão de Israel à Gaza. Em seu primeiro mandato, ele apoiou Israel mas também já declarou que não gosta de “guerras caras”, então alguns analistas têm especulado que é possível que ele bote pressão no governo de Netanyahu para que a guerra acabe logo. De novo: em que condições não se sabe.

Seguindo a tendência negacionista climática do manual da extrema direita, Trump também promete uma linha dura contra restrições ambientais, o que preocupa especialistas e ambientalistas. Em um ponto tão crítico da emergência climática, decisões erradas significam a vida ou a morte do planeta.

Nos congressos de ultradireita que cobri em 2024, as eleições norte-americanas foram mencionadas como grande inspiração para o campo.

Arrepia pensar em tamanho poder nas mãos de um homem tão perigoso.

Na Alemanha, em um momento de profunda crise econômica e política, novas eleições foram chamadas para fevereiro e o partido de extrema direita AfD aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos.

A tensão aumenta ainda mais com a declaração reiterada de apoio de Elon Musk à AfD.

É a primeira vez que alguém tão influente se posiciona a favor do partido extremista, que geralmente fica fora inclusive das alianças ultraconservadoras internacionais por suas conexões com o neo nazismo.

Em seu discurso de fim de ano, o atual chanceler Olaf Scholz fez um apelo para que os cidadãos alemães não se deixem influenciar pela campanha de Musk e declarou: “Vocês, os cidadãos, decidem o que vai acontecer a seguir na Alemanha. Não são os donos das redes sociais que decidem isso”.

Mas outro cenário também preocupa. Em primeiro lugar nas pesquisas de intenções de votos, o líder conservador alemão Friedrich Merz (CDU) já declarou que a Alemanha pode vir a fornecer mísseis Taurus, mais potentes que os norte americanos, à Ucrânia – E Putin segue dizendo que essa decisão, assim como a inclusão da Ucrânia à OTAN, significa uma nova guerra mundial.

No Brasil, 2025 também será extremamente importante pois vai preparar o terreno para as eleições de 2026. Neste ano que começa, líderes irão se definir ou se consolidar nos campos políticos.

Surgirá uma nova figura reclamando o lugar de “outsider” e bagunçando a direita como aconteceu com Pablo Marçal durante as eleições municipais? Quem o Bolsonarismo irá abraçar? Quem os evangélicos irão apoiar?

E quais serão as pautas? O golpe baixo da vez?

Por outro lado, será que a esquerda brasileira vai conseguir se reconfigurar? Finalmente aproveitar o colapso do capitalismo neoliberal para apresentar propostas de um mundo diferente?

Será que seremos capazes de, além de defender as instituições democráticas, ter ideias novas? Nos conectarmos com as pessoas? Fazermos debates consistentes sobre pautas importantes? Investir em formação política de jovens e de base? Será que a gente consegue voltar a encantar?

O ano está só começando, ainda dá tempo. Bora pra cima deles.

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