O assassinato de Marielle Franco completa seis anos nesta quinta-feira (14) sem que a justiça tenha sido feita: as investigações ainda não apontaram um mandante. Na noite de 14 de março de 2018, a então vereadora do PSOL no Rio de Janeiro e o motorista Anderson Gomes foram mortos a tiros numa emboscada no centro do Rio de Janeiro. Até o momento, os ex-policiais militares Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa estão presos como principais acusados pelo crime que chocou o Brasil e o mundo.
Nesta terça-feira (12), o Ministério Público do Rio pediu que outro suspeito de envolvimento no caso, o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel, vá a júri popular. Ele teria monitorado a rotina de Marielle e auxiliado no desmanche do carro usado para o crime. Até o momento, a motivação para o assassinato contra a vereadora é uma incógnita, lembra Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil. Ela fala da expectativa para o caso ser solucionado.
“Cabe às polícias envolvidas e ao Ministério Público garantir que as provas cheguem de forma consistente ao Tribunal do Júri. Para nós, o que importa é ver que já são seis anos que a família de Marielle, que a família de Anderson, que a sociedade do Rio de Janeiro, do Brasil e do mundo, aguardam por resposta. Esperamos que finalmente as respostas [para] quem matou, quem mandou matar e porque venham a público. Mas a gente espera também que as autoridades do Rio de Janeiro e do Brasil tomem medidas para que isso não se repita nunca mais. Que a gente não tenha que esperar tanto tempo e que a gente não tenha que viver num país onde é muito perigoso para todo mundo que luta por direitos”, cobra Werneck.
Luta por direitos e justiça
Em janeiro deste ano, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio (TCE–RJ), foi apontado por Ronnie Lessa como um dos mandantes do atentado que matou a vereadora. Brazão foi vereador e também deputado estadual por cinco mandatos consecutivos no Rio de Janeiro e teria sido delatado pelo ex-PM à Polícia Federal. O conselheiro do TCE nega as acusações.
Uma possível hipótese para a motivação envolve uma suposta vingança de Brazão contra o ex-deputado e atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo, que também era filiado ao PSOL. A vereadora e Freixo trabalharam juntos por 10 anos e eram amigos. Freixo travou disputas com Brazão enquanto os dois eram deputados na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
“O Brasil é muito perigoso para quem luta por direitos. E Marielle lutava por direitos desde os 15 anos de idade, mesmo antes de conhecer o deputado Marcelo Freixo. O Brasil, nos últimos tempos, se tornou o segundo país do mundo mais perigoso. Então, não, não surpreende uma pessoa que luta por direitos, contra a brutalidade policial, por direitos de pessoas que vivem em favelas, de pessoas negras, das mulheres, das pessoas LGBT… não surpreende que essas pessoas estejam sob ameaças e que no Brasil se mate pessoas como essa. Não surpreende, mas a gente lamenta profundamente”, comenta a diretora-executiva da Anistia Internacional.
“É preciso garantir uma ação inteligente de desmantelamento do crime organizado. As pessoas que estão indo a júri — Ronie Lessa, Élcio de Queiroz e, agora, a pedido do Ministério Público, que a gente espera que seja bem-sucedido, Maxwell —, os três eram agentes do estado. Foram dois policiais e um bombeiro. Isso é muito grave. Como é que o Estado mantém em suas fileiras gente que comete crimes?”, questiona Werneck.
Nesta quinta, um festival acontece no Rio de Janeiro em memória à vida de Marielle Franco e Anderson Gomes. O evento será na Praça Mauá, no centro da cidade, e é organizado pelo Instituto Marielle Franco, com atividades ao longo de todo o dia.
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