A participação do petróleo importado no processo de refino brasileiro atinge atualmente apenas cerca de 6%, sendo aproximadamente 94% do processamento feito com óleo produzido no país. Esses dados integram estudo da área econômica da Federação Única dos Petroleiros (FUP) publicado nesta quarta-feira (23), sobre a autossuficiência do Brasil na produção de petróleo e a política de Preço de Paridade de Importação (PPI), adotada pela gestão da Petrobrás, que não leva em conta os custos nacionais de produção do petróleo e derivados. O PPI, implantado em outubro de 2016, reajusta os preços dos combustíveis com base na cotação do petróleo no mercado internacional, variação cambial e custo de importação.
“Se houvesse dificuldades de importação de petróleo, as refinarias brasileiras não teriam problema de suprimento, pois poderiam operar com 100% de petróleo nacional”, afirma o documento, destacando que as refinarias brasileiras estão adaptadas para processar os vários tipos de petróleo nacional e produzirem derivados, com exceção de lubrificantes.
“Com as refinarias trabalhando em plena carga operacional, em torno de 95% da capacidade instalada, poderiam atender inteiramente o mercado brasileiro”, garante o estudo da FUP. O fator de utilização total (FUT) das refinarias da Petrobrás atingiu a média de 88% no último trimestre de 2021, segundo informações da empresa.
Números confrontam política de preços da Petrobras
Os números apresentados no estudo contradizem frontalmente a atual política de preços da Petrobras. Desde 2016, com a introdução do Preço de Paridade de Importação (PPI), a estatal passou a fixar os preços dos combustíveis considerando como se todo petróleo refinado no país fosse importado. Daí a suposta necessidade de manter os preços praticados no Brasil atrelados à variação do petróleo no mercado internacional.
Em entrevista à RBA, o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, explica que “cai por terra a falsa tese da dependência do Brasil pelo petróleo importado”, destacando que a Petrobras, sem o PPI, poderia praticar preços justos e ainda continuaria tendo alta lucratividade, devido à elevada produtividade e o baixo custo operacional do pré-sal, que não chega a US$ 28 por barril.
Por conta da grande produtividade dos campos do pré-sal e dos investimentos nas refinarias, a Petrobras registrou queda expressiva nos custos de extração e de produção de derivados. Em 2021, a estatal teve um custo médio de extração de petróleo e produção de derivado de R$ 114,89 por barril. Ao mesmo tempo, vendeu no mercado interno por R$ 416,40 o barril. Trata-se de lucro de R$ 301,51 por cada barril comercializado no país.
“Lucro pornográficos”
Bacelar observa que, ao praticar o “preço justo se reduziria o lucro de importadores e dividendos de acionistas, os quais atingiram o recorde de R$ 101,4 bilhões em 2021”.
O ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli também criticou os lucros elevados dos acionistas da Petrobras, o que classificou como “lucros pornográficos”. Em webinar promovido pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), na terça-feira (22), ele afirmou que a tendência é que os preços do petróleo no mercado internacional se mantenham em alta nos próximos meses, em função da guerra na Ucrânia, e que essa alta no preço internacional vai acabar impactando os preços domésticos e resultando na distribuição da renda petroleira no Brasil, sendo os acionistas da Petrobras “os grandes ganhadores” desse processo.
Redação ICL Economia
Com informações da FUP e RBA
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