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Caminhoneiro espionado pela Abin: ‘Era esse governo que jogava nas quatro linhas?’

Litti e Landim se recusaram a mobilizar associados para manifestações golpistas, seja fechando estradas ou no 8 de Janeiro
23/02/2024 | 18h33

Por Chico Alves

As investigações da Polícia Federal sobre a atuação do chamado “Gabinete do Ódio” do governo de Jair Bolsonaro e outras ilegalidades cometidas no período, concluíram que líderes caminhoneiros que não eram alinhados com os bolsonaristas se tornaram alvos de monitoramento ilegal pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Segundo os jornalistas Dimitrius Dantas e Thiago Bronzatto, de O Globo, os dados estão registrados no sistema israelense FirstMile, usado pelo órgão entre 2019 e 2021 para vigiar a localização de pessoas por meio da conexão do celular.

O portal ICL Notícias falou com dois líderes caminhoneiros que foram monitorados. Tanto Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL), quanto Wallace Landim, conhecido como Chorão, presidente na Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores), se recusaram a mobilizar seus associados para manifestações golpistas, seja fechando estradas ou participando do 8 de Janeiro.

Ambos foram muito críticos à gestão Bolsonaro, por entenderem que as condições de trabalho da categoria ficaram longe do prometido, com preço de combustível alto, valor do frete baixo e outros problemas, que não foram tratados nem pelo presidente e nem pelo ministro da Infraestrutura da época, Tarcísio de Freiras.

A seguir, os dois falam sobre a confirmação de que estavam sendo alvos de arapongas:

Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL) 

“É um absurdo ser investigado por ser sindicalista, por militar a favor da categoria. E ainda mais que nesse caso é uma investigação ilegal. Não está claro o que esses caras fariam com informação que tinham. Uma coisa é você ser investigado dentro de um sistema democrático, dentro de um limite, dentro da dinâmica da luta de classes, que tem sempre. Outra coisa é lidar com ilegalidade, com os caras que são truculentos, que não aceitam o contraditório. Isso sim, é preocupante.

Eu sabia, tinha um sinalzinho estranho no celular. Não acredito que ele só estejam sabendo da tua localização, mas escutando o que tu tá conversando.

Eles devem ter ido à loucura quando ficaram sabendo que eu estava em Cuba, em agosto de 2021, por exemplo. Deve ter dado algum choque em algum general, que deve ter falado: ‘esse comunista!’ Esses caras são paranoicos, né? Se tu, se tu, por exemplo, eh, eu

A CNTTL ingressou na Justiça contra a Abin, quando circularam as primeiras informações de que fui monitorado. Movemos um processo, tem que ver com o advogado como está”.

Wallace Landim, conhecido como Chorão, presidente na Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores)

“A gente fica surpreso, né? Porque a gente sempre defendeu o segmento do transporte e não quero ter o perfil de defender candidato A ou B e contra governo A ou B. Então, a gente fica triste por saber que estava sendo monitorado.

E a gente entende com muita chateação que em vez de estarem preocupados com o segmento dos motoristas, eles estavam monitorando quem eles [do governo Bolsonaro] achavam deviam monitorar quem eles achavam que eram personagens-chave e quem eles achavam que traria risco para o país.

Quase todos eram os caminhoneiros que não concordavam com o governo.

É uma investigação de fato ilegal e mostra que o governo agiu de forma truculenta. Era uma forma de te deixar assustado, de intimidar. Algumas coisas não avançaram no transporte porque a categoria acertava com o Tarcísio de Freitas (na época Ministro da Infraestrutura) e nada.

Era esse governo que jogava nas quatro linhas? Aí comete um ato de ilegalidade desse tipo? Com essa confirmação, vou entrar na Justiça para defender meus direitos”.

 

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