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Tecnologia criada por Nicolelis será usada na Itália para pacientes com limitação motora

Segundo o cientista, estima-se que mais de 1 bilhão de pessoas no mundo todo são acometidas por algum tipo de disfunção cerebral
05/03/2024 | 10h14

O maior hospital privado da Itália, localizado em Milão, vai passar oferecer tratamentos baseados em neurotecnologias desenvolvidas pela equipe liderada pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis, professor emérito da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. A parceria foi anunciada hoje e os atendimentos começam ainda no primeiro semestre.

O acordo entre o recém-criado Instituto Nicolelis de Estudos Avançados do Cérebro, vinculado à Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa, e as organizações italianas Hospital IRCCS San Raffaele e Universidade Vita-Salute San Raffaele — primeira iniciativa desse tipo na Europa — é resultado de um processo de planejamento de dois anos.

“Estabelecer esta colaboração com um dos hospitais mais prestigiosos do mundo é a realização de um sonho”, diz Miguel Nicolelis. “Esta parceria internacional permitirá às pessoas acometidas de doenças neurológicas o acesso a tecnologias de ICM não invasivas de última geração, que são seguras, de baixo custo, e altamente eficazes”.

A expectativa do professor é alcançar um grande número de pacientes nos próximos anos e demonstrar categoricamente que as ICM não-invasivas, combinadas a outras tecnologias inovadoras e ferramentas de dados, se tornarão a principal abordagem para tratar doenças neurológicas e psiquiátricas muito em breve.

Larga escala

A parceria anunciada hoje vai possibilitar a implantação em larga escala de neurotecnologias e protocolos de neuroreabilitação, baseados na aplicação de interfaces cérebro-máquina não invasivas (ICMn) novas e genéricas. Essas ICMn serão a fundação de múltiplos protocolos de neuroreabilitação e terapias para tratamento de pessoas sofrendo de várias doenças neurológicas, tais como lesão medular, doença de Parkinson, derrames, esclerose múltipla e epilepsia crônica.

Segundo Nicolelis, estima-se que mais de 1 bilhão de pessoas no mundo todo são acometidas por algum tipo de disfunção cerebral, incluindo doenças neurológicas e psiquiátricas. Até os anos de 2030, o custo global para tratar desse número massivo de pessoas pode chegar próximo a seis trilhões de dólares. Portanto, terapias e tecnologias de neuroreabilitação inovadoras, clinicamente seguras e eficientes, e de baixo custo são necessárias para atender às necessidades de longo prazo dessas pessoas.

Nos últimos 20 anos, a demonstração recorrente de que é perfeitamente possível conectar um cérebro humano a ferramentas robóticas, eletrônicas ou virtuais, através das interfaces cérebro-máquina para criar aparatos neuroprostéticos e estabelecer protocolos de neuroreabilitação inovadores tem surgido como uma potente abordagem para enfrentar este enorme desafio global no cuidado à saúde. Acessar e se beneficiar do potencial clínico das ICM não invasivas será a principal missão do Polo de Neurotecnologia San Raffaele.

Inicialmente, o Polo de Neurotecnologia San Raffaele terá a missão central de prover aos pacientes em toda Itália e Europa o acesso integral aos modernos protocolos de neuroreabilitação e neurotecnologias desenvolvidas originalmente pela equipe brasileira multidisciplinar liderada pelo Dr. Miguel Nicolelis, neurocientista e Professor Emérito da Duke University Medical Center, nos Estados Unidos, e presidente do Instituto Nicolelis de Estudos Avançados do Cérebro. Ao lado do Dr. John Chapin, Nicolelis criou, no final dos anos 90, a abordagem neurofisiológica que eles denominaram interface cérebro-máquina.

Nicolelis pesuisa há duas décadas

Desde o início dos anos 2000, Nicolelis e sua equipe de pesquisadores nos EUA e Brasil desenvolveram múltiplas aplicações clínicas, baseadas em diferentes arranjos de ICM, combinadas com múltiplas ferramentas derivadas dos campos da realidade virtual e robótica.

Além da autoria do Plano Diretor — elaborado em colaboração com o Dr. Alan Rudolph, e que guiará as atividades do Polo Neurotecnológico — Nicolelis assumirá a posição de Professor Visitante da Universidade Vita-Salute San Raffaele, e co-liderará a colaboração Brasileira-Italiana.

Desenvolvidos originalmente para a demonstração do primeiro exoesqueleto de membros inferiores controlado pelo cérebro, que possibilitou que um jovem com paraplegia desferisse o chute inicial da Copa do Mundo da FIFA em 2014, os protocolos de neuroreabilitação que serão implementados no Centro de Neuroreabilitação do Polo de Neurotecnologia San Raffaele são baseados na combinação de ICM não invasivas, realidade virtual, robótica, e mais recentemente em técnicas de neuromodulação não-invasivas.

Demonstração de exoesqueleto desenvolvido por Nicolelis na Copa de 2014

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