A Secretaria da Educação do Paraná irá recolher todos os exemplares do livro “O avesso da pele”, premiado romance de Jeferson Tenório, das escolas públicas da capital do estado. O livro entrou na mira da extrema-direita na sexta-feira, quando a diretora de um colégio no interior do Rio Grande do Sul criticou a inclusão da obra no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), embora ela própria tenha feito a escolha para sua cidade, Santa Cruz do Sul, e pediu seu recolhimento das bibliotecas do município.
O caso do Paraná é ainda mais grave pelo fato de a secretaria ter determinado o recolhimento dos exemplares, o que configura um episódio de censura à obra que trata do racismo no Brasil e da brutalidade da polícia em abordagens a pessoas negras. A decisão foi de Anderfábio Oliveira dos Santos, formado em matemática e diretor de educação da secretaria desde janeiro de 2023, e de Laura Patrícia Lopes, chefe do Núcleo Regional da Educação de Curitiba.
Os ataques ao aclamado escritor e à sua obra-prima se intensificaram essa semana. Na segunda-feira (4), surgiu a notícia de que o livro seria excluído das escolas de 18 municípios do Rio Grande do Sul. A 6ª Coordenadoria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul anunciou a remoção do romance, vencedor do Prêmio Jabuti de 2021 — o mais importante do país —, mas o governador Eduardo Leite (PSDB), por meio de sua secretaria de educação, desautorizou a decisão.
Os livros serão recolhidos entre hoje e sexta-feira das escolas curitibanas. O ofício justifica alegando “a necessidade e a importância da orientação de encaminhamentos pedagógicos a partir dos livros que fazem parte do Programa PNLD, com foco na construção das aprendizagens em cada uma das etapas de escolarização”.
Segundo os burocratas responsáveis pelo ofício, a obra passará por “análise pedagógica e posterior encaminhamentos”.
Censura a livro é “mais uma violência”, diz autor
Em nota ao UOL, a Secretaria da Educação do Paraná disse que o ato de censura “se faz necessário neste primeiro momento”. A análise do livro é necessária, ainda de acordo com o ofício, pelo “fato de que, em determinados trechos, algumas expressões, jargões e descrição de cenas de sexo explícito utilizados podem ser considerados inadequados para exposição a menores de dezoito anos (janela etária da maioria dos alunos de ensino médio no Estado)”.
Em seu Instagram, Jeferson Tenório disse ser “importante lembrar que nenhuma autoridade, seja ela diretora, secretário, vereador, deputado, governador ou presidente tem o poder de mandar recolher materiais pedagógicos de uma escola. É um ato que fere um dos pilares da democracia, que é o direito à cultura e à educação. Não se pode decidir o que os alunos devem ou não ler com uma canetada”.
Vendas de livro aumentam
As vendas de “O avesso da pele” aumentaram 400% no site da Amazon desde sexta-feira, dia em que começaram os ataques ao livro de Tenório. É o efeito colateral indesejado pelos bolsonaristas, que querem justamente o oposto.
Segundo nota do Ministério da Educação enviada ao jornal Folha de São Paulo, “o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) é uma relevante política do Ministério da Educação com mais de 85 anos de existência e com adesão de mais de 95% das redes de ensino do Brasil. A permanência no programa é voluntária, de acordo com a legislação, em atendimento a um dos princípios basilares do PNLD, que é o respeito à autonomia das redes e escolas”.
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