Você voltaria a usar a camisa amarela da Seleção Brasileira?
Na semana do primeiro indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro — falsário de documentos públicos de vacina —, a súplica do técnico Dorival Júnior ficou mais difícil ainda de ser atendida.
Sequestrada pelas hordas bolsonaristas em manifestações de rua e na quebradeira golpista de 8 de janeiro, a amarelinha perdeu o valor esportivo. Virou uma carteira de identidade dos aliados do ex-presidente.
Houve uma louvável tentativa de recuperar o uniforme, como vestimenta de todos os brasileiros, na Copa do Mundo de 2022. Embora parte da torcida da esquerda (e da frente ampla que elegeu Lula) tenha usado, a retomada não vingou para valer.
A camisa seguiu como peça mais importante do armário da extrema-direita.
A Nike, fornecedora da CBF, fez um esforço publicitário para livrar a marca do estigma do bolsonarismo, afinal de contas precisa ampliar as vendas. “É sua, é minha, de toda nossa torcida”, dizia uma campanha no Mundial do Catar, em parceria com a Brahma.
No mesmo período, um clipe da CBF usou o hit “Tão bem”, de Lulu Santos, para dizer que o uniforme caia bem a todos os brasileiros e brasileiras. Era bonito, a gente se pegou cantando junto, mas a amarelinha seguiu associada ao bolsofascismo.
No lançamento dos novos uniformes da Seleção, segunda-feira (18/03), a Nike mostrou que mexeu um pouco na estampa e trouxe um recado discreto na gola interna: “Brasil Para Todos”.
Difícil livrar a camisa amarela da maldição do bolsonarismo. O uniforme reserva, azul, até vá lá, disfarça um pouco a patriotada.
Dorival é boa praça, gente fina do interior paulista, alma genuinamente caipira de Araraquara, mas seu apelo, sinto muito, não teve boa repercussão fora da bolha da extrema-direita. Bote maldição nisso.
O técnico pediu para que todos vestíssemos a camisa amarela em dias de jogos da seleção canarinha — para mostrar o orgulho de ser brasileiro. O time da CBF joga no próximo sábado com a Inglaterra, um embate amistoso em Londres.
Confesso que cheguei a acreditar da retomada da camisa histórica para uso por torcedores de todos as cores políticas. Na última Copa, vesti uma amarelinha que ganhei do amigo (e colega no canal Sportv) Carlos Alberto Torres, o Capitão do Tri, bravíssimo Capita.
Pareceu, inicialmente, uma experiência estranha, mas me acostumei rápido a usar uma camisa que havia sido de todos nós a vida inteira.
Quem ficou passada — tomou um susto mesmo! — com a minha vestimenta foi a extraordinária Milly Lacombe, colega jornalista do UOL. Fizemos juntos, naquela tarde de estreia do Brasil no torneio do Catar, um bate-papo sobre futebol e literatura no Sesc Paraty, na programação da Flip.
Quase impossível, caro Dorival, se livrar da maldição bolsonarista que ficou impregnada na amarelinha. E olhe que sou fãzaço do Rodrygo e do Vini Jr.
O meu palpite é aposentar, por um tempo, a camisa sequestrada por aquela legião que acampou na frente dos quarteis à espera do golpe — por mais 72 horas, amém. Deixa a naftalina da história desinfetar o uniforme.
A “Pátria em chuteiras”, tio Nelson, vai muito bem de azul ou no branco utilizado até 1950. Ou, quem sabe, uma bela novidade inventada pelo fabricante.
Com a amarela, esquece; nem a pau, seu Dorival.
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