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O elo intrincado entre estresse, depressão e saúde intestinal

Estudo recente revelou uma relação profunda entre o estresse e a saúde intestinal
18/03/2024 | 20h45

Por Gustavo Cabral *

O intricado relacionamento entre a mente humana e o mundo microscópico das bactérias intestinais está revelando uma rede complexa de comunicação e regulação mútua. Estudos recentes destacam como o estresse psicológico e a depressão podem influenciar diretamente na escolha alimentar e remodelar a composição bacteriana intestinal. Essa interação entre o cérebro e o intestino através do eixo intestino-cérebro não apenas afeta nossa saúde gastrointestinal, mas também desempenha um papel significativo em nossa saúde mental e emocional.

Recentemente, um estudo publicado na prestigiosa revista Cell Metabolism revelou uma relação profunda entre o estresse e a saúde intestinal, mostrando como as alterações bioquímicas desencadeadas pelo estresse podem remodelar o microbioma intestinal, potencialmente contribuindo para condições como a síndrome do intestino irritável (SII) e a doença inflamatória intestinal (DII).

Os pesquisadores realizaram experimentos em camundongos submetidos a estresse crônico, observando uma redução significativa de células protetoras intestinais, essenciais para a defesa contra patógenos. Essa redução foi atribuída ao mau funcionamento do metabolismo das células-tronco intestinais induzido pelo estresse. Além disso, foi constatado que o estresse pode influenciar a composição do microbioma intestinal, levando à proliferação de diversas bactérias e à produção aumentada de substâncias prejudiciais à transformação das células-tronco intestinais em células protetoras.

Embora conduzido em camundongos, esse estudo tem implicações importantes para os seres humanos, como mostram diversos outros estudos, que sugerem uma possível conexão entre estresse, alterações no microbioma intestinal e distúrbios de saúde mental.

Dieta e saúde intestinal

Além disso, é amplamente reconhecido que a dieta desempenha um papel crucial na determinação da composição das bactérias intestinais, exercendo uma influência sistêmica em nosso organismo. Mudanças na dieta podem resultar em alterações rápidas e detectáveis na microbiota intestinal. Uma dieta rica em proteínas vegetais, gorduras insaturadas e fibras geralmente sustenta uma microbiota intestinal saudável, enquanto o consumo excessivo de proteínas animais, gorduras saturadas e açúcares simples ou artificiais tende a promover uma microbiota menos saudável.

A dieta ocidental, caracterizada pelo consumo excessivo de alimentos processados e pobres em fibras, tem sido criticada por promover uma assinatura distintiva da microbiota intestinal, com baixa diversidade e maior permeabilidade intestinal. Essas mudanças na microbiota podem contribuir para o desenvolvimento de condições crônicas, como a síndrome metabólica e outras doenças relacionadas ao estilo de vida.

saúde intestinal

As bactérias intestinais também exercem influência sobre nossos desejos e comportamentos alimentares. Estudos demonstraram que as bactérias intestinais podem produzir moléculas que imitam ou interferem componentes reguladores do apetite humano, que modificam as vias de recompensa e até mesmo influenciam a expressão dos receptores de sabor. Além disso, através da liberação de neurotransmissores, as bactérias intestinais podem influenciar indiretamente nosso comportamento alimentar por meio de mudanças de humor.

Essas e tantas outras descobertas destacam a importância de cuidar não apenas da saúde física, mas também da saúde emocional e mental, através da adoção de hábitos alimentares saudáveis e da gestão adequada do estresse. A compreensão do complexo relacionamento entre estresse, depressão e saúde intestinal oferece novas perspectivas para prevenirmos uma ampla gama de más condições de saúde, tanto físicas quanto mentais.

 

*Imunologista PhD e Coordenador de Pesquisa no ICB-IV da USP, para o desenvolvimento tecnológico de vacinas aplicadas contra Covid-19, Chikungunya, Zika e Dengue vírus.

 

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