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Da mansão à prisão: conheça cadeia em Tremembé onde Robinho está preso

Ex-jogador vai acordar às 5h45 e dividir cela de 15 m² com outros quatro presos
22/03/2024 | 21h03

Por Caio Barretto Briso

Pouco antes de 1h da madrugada, Robinho atravessou o portão azul do lugar onde passará os próximos anos. Passou pela frase de boas-vindas logo na entrada, assim como todos os 434 homens com quem dividirá espaço e que chegaram antes dele: “Este presídio só recebe o homem. O delito e seu passado ficam nesta portaria”.

A frase dá o tom do que os apenados encontram na Penitenciária Dr. José Augusto César Salgado, um presídio de segurança média em Tremembé, a 150 km de São Paulo, onde presos anônimos e famosos se misturam — bandidos de casos hediondos, porém desconhecidos, e assassinos notórios no país inteiro.

A reportagem do ICL Notícias já esteve em Tremembé, onde Robinho dormiu sua primeira noite. Após 11 anos fugindo da Justiça, desde que cometeu um estupro coletivo em Milão contra uma vítima de 23 anos, o ex-jogador finalmente terá a privacidade que desejava, embora não no lugar que sonhou.

Mesmo sob o apelido de “presídio dos famosos” por ter no seu rol de criminosos gente como Roger Abdelmassih, Alexandre Nardoni e Lindemberg Alves — outros nacionalmente conhecidos, como Suzane von Richthofen, os irmãos Cravinhos e Elize Matsunaga já ganharam liberdade –, a P-II de Tremembé também tem condenados por crimes sexuais contra mulheres e crianças, além de policiais e agente penitenciários.

Ou seja, criminosos que sofrem rejeição e violência em outros presídios lá encontram um lugar seguro.

Robinho não encontrará nem de perto o luxo de sua mansão de R$ 10 milhões no Guarujá, nem de seu apartamento em Santos, onde foi preso pela Polícia Federal às 19h de quinta-feira (21). Mas não deixa de ser um privilégio estar em uma cadeia com 26% das celas vazias em um país com déficit de 167 mil vagas nas prisões, onde a superlotação e a presença de facções (o que também não existe em Tremembé) são a regra.

 

Frase na entrada do presídio dos famosos foi a primeira coisa que Robinho leu ao chegar

Frase no portão de entrada da Penitenciária Dr. José Augusto César Salgado foi a primeira coisa que Robinho leu ao chegar. Foto: Reprodução

A rotina de Robinho no presídio construído em 1948 já começou cedo hoje. Os presos dos dois pavilhões masculinos despertam às 5h45 para a primeira revista do dia, quando os agentes penitenciários passam de cela em cela. Robinho dormiu sozinho em uma cela menor, de 8 m2 , procedimento padrão quando chega um preso novo com o seu perfil. É uma espécie de processo de adaptação.

Robinho vai dividir cela com quatro presos

Depois de uma semana na cela pequena, ele passará para uma maior, de 15 m², com capacidade para até seis pessoas, mas normalmente ocupadas por cinco. A comida é feita por um grupo de 30 presos e alimenta tanto os confinados como os diretores do presídio, por ser de boa qualidade.

Os apenados podem fazer aulas de música e inglês, participar de campeonatos de xadrez e concursos de poesia. Tudo organizado e mantido pelos próprios detentos. A unidade tem duas oficinas de trabalho, templo ecumênico onde os presos costumam fazer cultos evangélicos e um campo de futebol onde Robinho poderá desafiar seu talento.

Robinho terá o direito de trabalhar, o que nem sempre acontece em outros presídios do país pelo excedente de 167 mil presos a mais do que o número de vagas (Foto: Ana Paula Igual/Funap)

Robinho poderá trabalhar se quiser, o que nem sempre é possível no país pelo excedente de 167 mil presos a mais do que o número de vagas. Foto: Ana Paula Igual/ Funap

O ritual de contagem dos presos se repete outras duas vezes por dia, às 11h e às 17h15. Na cozinha, são mais de 300 quilos de arroz e 200 quilos de carne por dia, que vão para o fogo logo às 7h30. Todas as refeições são servidas na cela. Na lavanderia, duas equipes de presos se revezam para lavar mais de 400 quilos de roupas por dia.

As visitas são aos finais de semana. Há 25 quartos especiais para visitas íntimas, que ocorrem tanto aos sábados quanto aos domingos. Quando a saudade aperta, os presos escrevem cartas — saem do presídio mais de 2 mil cartas por mês. Na biblioteca, são mais de 6 mil títulos — os romances policiais de Agatha Christie estão entre os mais lidos.

Talvez Robinho demore a conseguir trabalho, pois a procura, mesmo na penitenciária de Tremembé, costuma ser maior do que a oferta, já que os presos descontam um dia de pena a cada três trabalhados. Mas tempo é o que não lhe faltará.

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