ICL Notícias
Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

Colunistas ICL

Para PF, Rivaldo criou divisão de homicídios para centralizar propina do crime organizado

Responsável pelo caso Marielle, Rivaldo foi um dos responsáveis pelo processo de unificação das investigações de homicídios no Rio
27/03/2024 | 05h00

Com Karla Gamba e Igor Mello

No relatório final sobre os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), a Polícia Federal sustenta que o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa, preso por envolvimento no planejamento da execução, criou a Divisão de Homicídios para centralizar propinas sobre os homicídios em toda a região metropolitana do Rio

Rivaldo foi um dos responsáveis pelo processo de unificação das investigações de homicídios no Rio de Janeiro. Ele é o idealizador do modelo que subordinou todas as unidades de Delegacia de Homicídios — da capital, da Baixada Fluminense e a do Leste Fluminense — a um comando único, hoje batizado de Departamento-Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa.

A PF afirma que Rivaldo passou a operar um “balcão de negócios homicidas” ao assumir o comando das investigações de todos os assassinatos no Grande Rio.

“Rivaldo traçou como grande objetivo a concentração de esforços na Baixada Fluminense. Para tanto, conforme visto no histórico de lotações do Delegado Giniton Lages, ele fora o eleito para tal missão ao assumir a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense em 27/10/2015, o que demonstra a relação de confiança entre ambos”.

Também é citado uma investigação iniciada em 2018 pelo Ministério Público do Rio de Janeiro para investigar crimes de organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro cometidos por Rivaldo Barbosa no período em que foi titular da Delegacia de Homicídios da Capital. Segundo essa apuração do MP–RJ, Rivaldo “recebia vantagens indevidas da contravenção para não investigar/ não deixar investigar os homicídios por eles praticados, decorrentes das disputas territoriais para a exploração do ‘jogo do bicho’”.

A PF traz para a investigação depoimentos e falas de diversos criminosos que admitiram pagar ou saber de pagamentos para que a DH não desvendasse homicídios. O miliciano Orlando Curicica — que foi incriminado como mandante do assassinato de Marielle no plano de obstrução conduzido por Domingos Brazão — disse ter sido extorquido em R$ 20 mil para que sua mulher não fosse processada por porte ilegal de armas.

Curicica diz ter conhecimento de propinas mensais para a DH e outras delegacias da região, pagas por bicheiros e milicianos. Ele afirma ainda que o bicheiro Rogério Andrade pagou R$ 300 mil à equipe de Rivaldo para que a morte do ex-PM Geraldo Antônio Pereira ficasse impune. Posteriormente descobriu-se que ele havia sido executado pelo Escritório do Crime, então comandado por Adriano da Nóbrega, a mando de Andrade.

Outro nome a citar propinas para a DH sob o comando de Rivaldo Barbosa foi o miliciano Jorge Moreth, o Beto Bomba, integrante da cúpula da quadrilha que comanda a favela do Rio das Pedras. Em uma conversa com o vereador Marcello Siciliano — outro incriminado pelo plano de Brazão — o miliciano cita um pagamento de R$ 400 mil ao delegado.

A PF destaca ainda que a ascensão de Rivaldo a uma carreira notável na Polícia Civil se deu justamente no período em que o MDB governou o estado, com Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. Domingos Brazão sempre foi considerado um dos maiores expoentes desse grupo político, tendo presidido a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), a mais poderosa da Assembleia Legislativa do Rio.

Nesse período, Rivaldo chefiou a DH da Capital, a Divisão de Homicídios e a própria Polícia Civil. Também foi alçado à Secretaria de Segurança, no cobiçado posto de subsecretário de Inteligência — responsável, entre outras funções, por todos os grampos telefônicos do Rio de Janeiro.

Em entrevista à GloboNews, o advogado Alexandre Dumas, responsável pela defesa de Rivaldo Barbosa, classificou a delação de Lessa como “fantasiosa” e o relatório de “frágil”. Segundo ele, é preciso analisar individualmente cada inquérito em que há acusações de corrupção.

“Cada caso desses deverá ser apurado individualmente.  Se ele prevaricou aqui ou acolá, isso vai ser apurado em inquéritos independentes”, disse ele.

Deixe um comentário

Mais Lidas

Assine nossa newsletter
Receba nossos informativos diretamente em seu e-mail