1964 é 1822 e a opção da elite luso-brasílica pelo tráfico de africanos e pela escravidão como linha mestra e futuro do nosso Estado-Nação em formação.
1964 é 1831 e um pacto de senhores escravocratas e sequestradores que, à revelia da lei, escravizaram ilegalmente mais de 750 mil africanos livres.
1964 é 1888 e uma lei áurea que não foi dádiva de uma princesa ou de um imperador que governou por meio século para uma elite escravocrata, mas sim resultado da luta dos abolicionistas como revolução.
1964 é 1889 e a proclamação de uma república liberal excludente que reiteradamente massacrou seu povo, seja em Canudos, na Chibata, Revolta da Vacina, Caldeirão ou Contestado.
1964 é 1937 e o Estado Novo Varguista, que prendeu, torturou, matou e exilou Prestes, Olgas, Gracilianos e Nises.
1964 é 1954 e o entreguismo golpista da elite brasileira.
1964 é 1961 e a tentativa de impedir o Governo João Goulart e suas reformas.
1964 é 1964 e o golpe contra a vida dos trabalhadores, sanha da tortura, das políticas de repressão sexual e do desaparecimento dos corpos.
1964 é 1979 e uma lei que anistiou torturadores e o terrorismo de Estado.
1964 é 1984 e as Diretas Já que não passaram, deixando um povo que luta chorando na praça.
1964 é 1989 e o golpe midiático que levou ao poder o grotesco.
1964 é 1998 e o choque da gestão neoliberal contra o povo.
1964 é 2014 e a trama golpista e ressentida que jogou o Brasil no abismo.
1964 é 2016 e um impeachment sem crime de responsabilidade. Um golpe jurídico, parlamentar e midiático. Um golpe contra a vida das mulheres e seus direitos!
1964 é 2018 e a farsa de uma “decisão muito difícil” que levou ao Planalto um genocida e sua macabra hecatombe. Cortejo triunfal da barbárie nacional!
1964 é 2023 e a patriotada golpista que devastou o Planalto!
1964 é a história inteira do Brasil, o ano secular que nunca terminou, múltiplas camadas de tempo — de luta, de sonho, massacre e sangue — de um passado que ainda não passou…

O Presidente João Goulart (Jango) em cerimônia militar em Brasília em 1963. Jango passando em revista aos militares é mais uma alegoria sobre a posição do presidente como chefe das forças armadas e ao mesmo tempo, cerca de um ano após, deposto pelas armas que deveriam obedecê-lo. Fonte: Memórias da Ditadura. História da Ditadura — Arquivo Nacional. Domínio Público.
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