Por Isabellla Menon
(Folhapress) — Edneia Fernandes Silva, 31, morreu após levar um tiro na cabeça na última quarta-feira (27), em Santos, durante uma operação da PM. Naquele dia, ela havia levado um dos seis filhos ao barbeiro e comprado ovos de Páscoa. Também tinha levado roupa para consertar em uma costureira e decidiu se sentar na praça José Lamacchia, no bairro Bom Retiro, para falar com uma amiga.
Sua irmã Andréia Fernandes conta que Edneia era religiosa e falava com a amiga sobre Jesus no momento em que foi baleada. “Ela era fiel ao senhor e foi atingida”, diz.
Segundo Andréia, a irmã não costumava sair muito. “Onde ela morava é área de risco. Ela estava estudando para ser enfermeira e sair de onde morava. O sonho dela era não criar os filhos ali”, afirma.
A irmã conta que Edneia tinha um coração bondoso, sempre ajudou o próximo, e era comum que crianças da comunidade a chamassem de “mãe”. “Minha irmã nunca fez maldade com ninguém. Foi um ser humano com coração sem igual.”
Neste domingo (31), em conversa com a Folha, Andréia disse que a família não está bem. “Estamos averiguando o caso com calma, ainda é muito recente.”
Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública) do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), policiais militares patrulhavam a região da praça José Lamacchia quando viram dois homens em uma moto e deram ordem de parada.
Os homens teriam desobedecido à ordem e teriam disparado cinco vezes contra os policiais, que revidaram, ainda de acordo com a SSP. “Uma mulher, de 31 anos, foi atingida e socorrida por populares à UPA Zona Noroeste e, posteriormente, transferida para Santa Casa, mas não resistiu.”
A pasta afirmou ainda que os suspeitos fugiram e que a moto foi apreendida. O caso foi registrado na Central de Polícia Judiciária de Santos, e o caso é investigado no 5º Distrito Policial de Santos. Também foi aberto um inquérito policial militar pela PM paulista.
À TV Globo, testemunhas contestaram a versão oficial e afirmaram que houve apenas um disparo feito quando três motos da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) passaram pelo local.
Procurada neste domingo, a SSP afirmou que não há novidades na investigação.
Com a morte de Edneia, a Operação Verão no litoral paulista chegou a 55 mortos. Nas redes sociais, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não fez comentários sobre a morte de Edneia. O último post do governador foi uma mensagem sobre a Páscoa.
No dia seguinte à morte de Edneia, o secretário da Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite, disse nas redes sociais que a Polícia Civil havia realizado “uma das maiores apreensões de cocaína dos últimos anos no litoral de São Paulo, causando um prejuízo de mais de meio bilhão de reais ao crime organizado”.
Operação da PM mais letal desde o Carandiru
A primeira fase da Operação Verão começou em 18 de dezembro, com foco no reforço da segurança das cidades do litoral durante a alta temporada de verão. Iniciou-se nova fase após a morte do soldado da Rota Samuel Wesley Cosmo, 35, no dia 2 de fevereiro — ele foi assassinado durante patrulhamento em uma favela de palafitas na periferia de Santos.
Após o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, dizer não reconhecer excessos por parte da PM, a Ouvidoria da Polícia disse ter encaminhado ao governo do estado 27 queixas de abusos na operação entre janeiro e fevereiro.
Diante da violência que atinge a região, organizações de direitos humanos denunciaram na ONU as ações da PM no litoral. O governador chegou a dizer “não estar nem aí” para as possíveis denúncias de violações apresentadas para o colegiado internacional.
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