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PMs agridem jovem negro e pai cadeirante em Piracicaba; comunidade convoca ato

Família denuncia que rapaz foi levado até um ginásio e espancado até cuspir sangue por acusação de desacato
03/04/2024 | 09h24

Por Gabriela Moncau — Brasil de Fato

Três policiais militares (PMs) da Rocam agrediram, com cassetete e taser, um jovem negro desarmado e sem camisa em Piracicaba (SP), nesta segunda-feira (1º). Ele estava sentado na calçada, conversando com amigos, quando presenciou a abordagem de um amigo pela PM e se aproximou. Ao se negar a sair do local, de acordo com sua irmã, Priscila Padilha, foi atacado pelos agentes.

O rapaz de 21 anos, então, entrou na casa dos pais para pedir ajuda. Sem mandado, os agentes vão atrás. O pai, de cadeira de rodas, tentou impedir a continuidade da violência e também foi agredido. Testemunhas filmaram parte da ação.

O episódio aconteceu no bairro Cantagalo. Segundo a irmã do jovem, as cenas ocorridas antes e depois dos vídeos são ainda piores: envolvem tortura e ameaça de morte. De acordo com a família, o rapaz foi levado pelos policiais para um ginásio e espancado. Cuspindo sangue e com arritmia cardíaca, foi levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e depois para a delegacia. O caso foi registrado como desacato e desobediência.

No início da noite desta terça-feira (2), a comunidade organiza uma manifestação contra a violência policial no local onde houve a abordagem. “A população está revoltada, se sentindo de mãos atadas. A única coisa que a gente pode fazer é protestar. Tem que se reunir, tem que falar sobre, tem que ir para cima”, afirma Priscila. “Se daqui a uma semana eles forjam meu irmão na rua, vai ficar explícito que é perseguição contra ele”, atesta. “Vidas negras importam”, diz o chamado do ato.

O que aconteceu?

De acordo com a família do jovem agredido, amigos tomavam cerveja na calçada na tarde desta segunda-feira (1º), quando um deles foi buscar dinheiro em casa e foi parado pelos policiais.

O irmão de Priscila se aproximou para acompanhar a abordagem. Chegou a brincar com o amigo, dizendo para ele não esquecer de, depois, voltar com mais bebida. Um dos policiais ordenou que ele saísse. O jovem argumentou que tinha o direito de estar ali, em via pública, tomou um soco na cara e caiu no chão. As agressões continuaram. Entre choques e cassetadas, conseguiu se desvencilhar e ir até a casa dos pais, momento em que testemunhas começaram a filmar.

“Ameaçaram meu irmão, dizendo que se ele abrir a boca, vão matar ele, a namorada, o pai, a mãe”, denuncia Priscila, ao descrever a sensação de medo. Enquanto falava, ouviu uma sirene. “Ah, é uma ambulância”, se aliviou.

“Quando meu irmão chegou na delegacia, já estávamos eu e o advogado esperando por ele. Depois tomaram os depoimentos. E a polícia ali o tempo todo querendo oprimir, quando a gente estava na frente da delegacia, os policiais falando que iam prender a gente por desacato”, relata Priscila.

O que diz o governo de São Paulo sobre a atuação dos PMs?

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) — comandada pelo ex-policial da Rota Guilherme Derrite (PL) — informou que foi instaurado um Inquérito Policial Militar e que apura a conduta dos agentes.

Em nota, a SSP-SP afirmou que os policiais “estavam em patrulhamento” quando, “ao tentar realizar a abordagem a um motociclista, um homem de 21 anos interveio. Foi necessário o uso do taser (arma de choque) para contê-lo. Durante a ação, seus familiares hostilizaram a equipe. Ele foi detido e conduzido à delegacia, onde prestou depoimento na presença de seus advogados. As investigações prosseguem na Delegacia Seccional de Piracicaba”.

A pasta não respondeu sobre a entrada em domicílio sem mandado de segurança e nem sobre a denúncia de tortura no ginásio antes de irem à delegacia.

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