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Chico Alves

Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

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Seis lições de ouro para quem quiser praticar o ‘bolsonarismo moderado’

Use o terno de uma boa marca, mantenha os gestos contidos, a oratória tranquila
30/04/2024 | 15h43

Diante da cada vez mais visível adesão da grande imprensa a uma possível candidatura do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, à Presidência da República, é possível tirar algumas lições úteis para uma parte dos políticos brasileiros.

Agraciado com páginas e mais páginas de jornais que tentam descrevê-lo como alguém muito diferente de Jair Bolsibaro, seu mentor, Tarcisio pode servir de exemplo para quem quiser seguir a ideia de certo colunista da Folha de S. Paulo e trilhar pelo novo caminho do “bolsonarismo moderado”.

É preciso que cientistas políticos se debrucem sobre essa nova modalidade para saber como seria na prática. Genocídio pela metade? Golpe de Estado com pedido educado ao governante golpeado? Fake news dentro de regras pré-determinadas?

Antes que esse estudo mais aprofundado seja feito, a coluna se apressa a aconselhar os políticos de direita que não querem ser confundidos com seguidores de Jair Bolsonaro, mas que ao mesmo tempo não dispensam votos do eleitor bolsonarista.

Baseado no cotidiano do governador de São Paulo, aí vão seis regras de ouro que podem ajudar bastante o extremista de sapatênis:

Fale baixo – Um dos principais mandamentos do político moderado é nunca gritar. Os decibéis a mais — além dos perdigotos — foram os sinais mais visíveis de tosqueira de Jair Bolsonaro. Não caia nessa armadilha. Você pode falar as maiores barbaridades em voz baixa — como, por exemplo, o “Tô nem aí” de Tarcisio de Freitas diante de 56 mortes em operações da PM. Modulando a fala, terá boa chance de ser bem tratado pela grande imprensa e por seus pares.

Ao atacar a democracia, comporte-se como quem a defende – Esse é um mandamento que Jair Bolsonaro e seus parceiros seguiram até certa altura. Na reta final, rasgaram a fantasia. Evite estridências como campanhas contra o processo eleitoral ou perseguir adversários políticos pelas ruas, de pistola em punho. Quebrar vidraças e depredar prédios públicos em Brasília definitivamente também não é algo que pegue bem para um moderado.

Mantenha parceria com Kassab – Essa sugestão serve para qualquer matiz ideológico: se o político de esquerda quer ser visto como moderado, deve colar em Gilberto Kassab. O mesmo para o bolsonarista que quer se passar por light.

Aproxime-se e afaste-se de Bolsonaro – Volta e meia elogie Jair Bolsonaro (causando apreensão na direita de bons modos) e volta e meia discorde de Jair Bolsonaro (causando apreensão nos bolsonaristas). Apesar de alguns contratempos, vai acabar sendo cortejado pelos dois grupos.

Se tiver fala mansa, pode fazer o que quiser na segurança – Use o terno de uma boa marca, mantenha os gestos contidos, a oratória tranquila e pronto: você poderá fazer de tudo na área de segurança pública. Mesmo que diga estar “satisfeito” depois de uma ação policial que resultou em várias mortes ou que solte aquele “Tô nem aí” citado no começo do texto, vai continuar a ser tratado pela imprensa como moderado. Está liberado usar broche de lapela em forma de fuzil — dizem que combina muito bem com um Armani.

Não seja contido ao usar martelos – Um dos poucos momentos em que você tem que deixar de lado a moderação é ao dar a martelada final no processo de privatização de algum bem público. Se for bastante vigoroso, será tratado como o macho alfa entre os políticos liberais. No meio dessa turma, isso pega muito bem.

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