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Ex-integrantes de uma comunidade do Osho no Rio Grande do Sul denunciam casos de abusos e agressões. As denúncias miram a Comunidade Osho Rachana, localizada a cerca de 40 quilômetros da capital gaúcha. A informação é da Folha de São Paulo.

Segundo relatos, o processo terapêutico do grupo, parte da Maratona de Potencial Sexual, incluía sessões com pessoas vendadas deitadas no chão que, ao som de músicas, trocavam carícias e pegação. Quem ergue o braço recebe na mão uma camisinha.

O grupo realiza as atividades em um sítio na zona rural de Viamão, na Grande Porto Alegre (RS). O espaço foi comprado por um grupo de discípulos de Osho (1931–1990).

Osho, apelidado de “guru do sexo”, foi um líder espiritual que pregava o materialismo espiritual e teve mais de 90 carros Rolls-Royce. Nos anos 1970 e 1980, Osho converteu multidões de jovens ao seu movimento rajneesh, que criticava a religião e educação tradicionais, pregava o amor livre e prescrevia meditações ativas.

Osho, apelidado de “guru do sexo”, foi um líder espiritual que pregava o materialismo espiritual e teve mais de 90 carros Rolls-Royce. Foto: Reprodução

Comunidade

A Comunidade Osho Rachana, inspirada nas ideia do líder espiritual, ficou conhecida na região como “sítio dos pelados”, com a proposta terapêutico do grupo que utiliza do sexo.

O grupo mistura elementos da terapia bioenergética, baseada nas teorias do psicanalista austríaco Wilhelm Reich (1897–1957), com as meditações ativas criadas por Osho.

O método busca uma prática de uma sexualidade livre e de exercícios capazes de desmanchar travas e traumas fruto de repressões na infância e adolescência.

“Se algo não vai bem, a solução é transar. A filosofia é que quem transa mais e melhor é mais feliz e não tem depressão”, explica a ex-integrante Camila Costa Silva, 35, em entrevista à Folha de São Paulo.

Os terapeutas da Comuna, como é chamada, não têm formação em psicologia nem em psicanálise ou em psiquiatria. Prem Milan, 68, um dos criadores do movimento, é quem ensina o método e coordena as sessões.

Denúncia

Um grupo de 16 ex-integrantes da comunidade se reuniu para denunciar abusos e violências que afirmam ter sofrido no que hoje chamam de seita.

Eles passaram entre 3 e 14 anos envolvidos com o método, e alguns viveram dez anos no sítio de Viamão. O caso foi levado ao Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) e é investigado pela Polícia Civil gaúcha.

Segundo os denunciantes, havia uma rotina de manipulações, humilhações, exploração do trabalho e episódios de agressão física. Eles também alegam ter sofrido e testemunhado coerção, ameaças e práticas de “cura gay”.

Prem Milan, líder do grupo, negou que empregue violência física ou psicológica na comunidade, onde admite ter uma posição de liderança. Segundo ele, as pessoas são convidadas a entrar para a Comuna e o fazem voluntariamente.

“A comunidade não sou eu, entende? A comunidade éramos todos nós. Eu cometi erros na minha vida, mas não esses absurdos que os caras dizem… Se houvesse violência, a pessoa poderia ter dado queixa na delegacia”, argumentou ele, para quem os denunciantes são movidos “por ressentimento”, disse.

Osho Rachana

A porta de entrada para a Osho Rachana é o centro de terapia bioenergética e meditações ativas Namastê. Foto: Reprodução/ Facebook

A porta de entrada para a Osho Rachana é o centro de terapia bioenergética e meditações ativas Namastê, sediado no centro de Porto Alegre desde 1997. O local se lançou com o lema “sem tesão, não tem solução” e um cardápio de terapia e meditações.

Uma das formas encontradas para angariar novos clientes e dinheiro é a venda em bares de várias cidades de agendas e cadernos produzidos na comunidade.

Com capas coloridas e imagens de figuras como Frida Kahlo, Angela Davis e cacique Raoni, as agendas têm dicas de sexualidade e um planner para o registro dos dias com ou sem sexo.

Um ex-terapeuta do grupo chegou a revelar que era orientado a criar com os clientes uma relação de dependência a partir de manipulações feitas em cima de confissões em terapia.

As sessões de terapia conduzem ao trabalho central do método: o Pai e Mãe, uma imersão de 21 dias por cerca de R$ 8.000. Quem não se dispõe a participar é ameaçado com a interrupção da terapia regular sob a alegação de que “não quer mudar de verdade”.

Essas sessões incluem horas de exercícios de escrita de cenas traumáticas da infância, ora com o pai, ora com a mãe, e encenações.

Durante a pandemia, era cobrada uma mensalidade de R$ 2.000 para morar na Osho Rachana, com dedicação de oito horas de trabalho semanais à comunidade.

O banho era em chuveiros coletivos, e todos dormiam ao som de gemidos em quartos comunitários com camas separadas por cortinas chamadas de “bed spaces”, ou apenas “bed”.

Líder nega as acusações

“Estou acostumado. Sofri muitas acusações de bolsonaristas e igrejeiros porque a gente fala sobre sexo, então, jogam tudo pra cima da gente”, afirma Prem Milan, 68, cofundador e líder do Namastê e da comunidade Osho Rachana.

“O Namastê tem 26 anos. Acho gozado que agora as pessoas venham falar essas coisas”, diz. “Passaram mais de mil pessoas por aqui e várias delas podem contrapor tudo isso”, afirma. “Se houvesse alguma violência, coisa assim, a pessoa ia na polícia se queixar, entendeu? Eu faria isso.”

“Ninguém nunca impunha nada. Era uma coisa aberta, entende?”, diz ele, que nega manipulações. “Em toda reunião era dito: se você não está satisfeito, tudo bem. Não é muito fácil o nosso modo de vida”, justifica.

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