Todos nós ficamos chocados com as cenas de uma Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, arrasada, e um estado que enfrenta a destruição social e econômica.
Nessa hora trágica, a desigualdade onipresente brasileira se manifesta, mais uma vez, já que os ricos podem se movimentar e se resguardar, mas os pobres, com casas e sonhos destruídos, não têm a mesma mobilidade.
Apesar de toda a destruição e da compaixão com as vítimas — o estado vai ter que ser reconstruído — existe um aspecto de oportunidade e de chance nesta tragédia.
É a chance de mostrar na cara dos negacionistas que a culpa não é da natureza, mas sim deles próprios. É uma oportunidade também para expor as contradições do agro (suposto pop) selvagem nacional e do seu potencial destrutivo.
Refazer a cadeia de causa e efeito é fundamental agora. E ela nos leva à crítica de todo um modelo de capitalismo selvagem baseado na destruição da natureza e no saque da riqueza de todos. É preciso aproveitar as janelas de oportunidade que se abrem.
O Rio Grande do Sul e o calor intenso em muitas capitais no outono mostram, sobejamente, que não temos tempo a perder. E quem atrasa qualquer projeto nacional para uma transição de matriz energética é o agronegócio e seus aliados no sistema financeiro.
É preciso apontar o dedo e mostrar o verdadeiro culpado. O negacionismo bolsonarista também pode ser contraposto de outra maneira a partir de agora.
O fundamental é que essa janela de oportunidade seja percebida pelos que podem alavancar e elevar a racionalidade mínima de uma sociedade entregue à propaganda e a manipulação do pior tipo. A humanidade e seu aprendizado, infelizmente, vivem das catástrofes.
A Segunda Guerra Mundial pariu um mundo, para citar apenas um exemplo dentre muitos, que elevou a humanidade a outro patamar civilizatório. A democracia, o respeito a autonomia dos povos, o acordo social-democrata, todos são decorrentes do aprendizado do pós-guerra.
As situações limite impõem a reflexão sobre o que é essencial e o que é secundário, e este é um grande processo de aprendizado civilizatório.
A tragédia do Rio Grande do Sul é a nossa maior catástrofe até aqui. Precisamos usar este fato, além de ajudar as vítimas, obviamente, para nos contrapor aos negacionismos, que servem ao capital predador, e conseguir também um outro patamar civilizatório para o país.
A luta contra a desigualdade e o cuidado da natureza precisam andar juntos e serem postos acima de qualquer outra coisa. E a inundação do estado gaúcho nos fornece a melhor janela de oportunidade que poderíamos ter.
Mas é preciso primeiro inteligência, para compreender a importância da chance, e, depois, coragem para agir. A urgência deste assunto é para ontem.
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