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Anitta perde mais de 200 mil seguidores por mostrar rotina em terreiro de Candomblé

"Laroyê Exu tirando dos meus caminhos tudo que já não me serve", escreveu cantora
13/05/2024 | 23h43

Adepta do Candomblé, a cantora Anitta é filha do orixá Logun Edé, algo que nunca escondeu. Ao compartilhar na manhã desta segunda-feira (13) no Instagram fotos do terreiro que frequenta a artista foi surpreendida: perdeu mais de 200 mil seguidores. As informações são do Brasil de Fato.

Nas imagens, a cantora mostrou a rotina no barracão, vestida com as roupas do Candomblé, e até tomando um banho de folhas para abrir caminhos.

As fotos fazem parte do lançamento do clipe da música Aceita, que será divulgado na quarta (15) e, ao perceber que perdeu seguidores, Anitta se manifestou nos stories.

“Perdi 100k seguidores depois de anunciar o clipe que vou mostrar minha religião. Laroyê Exu tirando dos meus caminhos tudo o que já não me serve mais”, disse.

Mais tarde, ela voltou ao Instagram para dizer que o número de seguidores perdidos havia aumentado.

“E já são mais de 200 mil seguidores que eu perdi desde que anunciei meu novo clipe. É um clipe em que eu mostro não só minha religião, mas de todos os envolvidos nessa produção. Tem várias religiões no clipe, mas já são mais de 200 mil seguidores que perdi. Ainda fico assustada com a falta de evolução do ser humano”, disse.

Na publicação feita por Anitta, o texto na legenda das fotos é sobre a sinopse do enredo da escola de samba Unidos da Tijuca, que vai colocar o orixá como tema do Carnaval 2025.

“Eu sou Longun Edé. O grande príncipe herdeiro da raça dos meus pais! Tenho a sensibilidade e a inteligência de minha mãe e a bravura e a esperteza de meu pai. Caçador e pescador, sou minha própria natureza. Sou o único capaz de reunir todos os mundos. Sou o equilíbrio entre os homens e as mulheres. Sou cultuado nos axés do Brasil”, diz um trecho.

Anitta postou nas redes foto em que toma um banho de folhas

Muito além de Anitta: o tamanho da intolerância

Segundo levantamento da startup JusRacial, em 2023 havia 176 mil processos por racismo em tramitação nos tribunais do país, e um terço deles (33%) envolviam intolerância religiosa.

A pesquisa foi feita a partir das páginas oficiais dos tribunais durante todo o ano, contando processos concluídos ou em andamento. No Supremo Tribunal Federal (STF), a proporção de casos de intolerância religiosa entre os processos por racismo é ainda maior: 43%.

O diretor-executivo da JusRacial, Hédio Silva Júnior, advogado e doutor em direito pela PUC-SP e ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo, afirma que pessoas de diferentes segmentos religiosos ou convicções filosóficas enfrentam preconceitos no Brasil devido às suas crenças. Entre os praticantes de religiões afro-brasileiras, porém, esse índice é muito maior.

“Os dados refletem, primeiro, esse problema gravíssimo, que não está ainda merecendo a devida atenção por parte das autoridades públicas, que é o problema do discurso de ódio, que nasce no Brasil há cerca de 40 anos com as denominações neopentecostais, com a satanização de todo legado civilizatório africano. Tudo que diz respeito à presença negra no Brasil: o samba, o carnaval, o maracatu, acarajé, é satanizado diariamente, juntamente com a religiosidade de matriz africana, que é muito popular no Brasil”, pontuou.

A pesquisa revelou um aumento de nada menos que 17.000% nos processos por racismo nos tribunais brasileiros na comparação com 2009, quando foi feita comparação semelhante. Hédio Silva Júnior afirmou que o discurso de ódio ganhou muito espaço no país nos últimos anos, e teve interferência direta na eleição de Jair Bolsonaro (PL) para a presidência da República em 2018 — tendo avançado ainda mais durante os quatro anos de mandato da extrema direita na Presidência.

O especialista destacou que é possível afirmar que os casos estão subnotificados, e que o número de processos por racismo e por intolerância religiosa, embora sejam altos, não reflitam de fato a frequência com que esses crimes são praticados no país.

“O discurso de ódio explica a violência simbólica, a ofensa, a humilhação, o ultraje, os ataques aos templos, a expulsão de sacerdotes de matriz africana de seus terreiros. E, lamentavelmente, se o Brasil não se der conta da gravidade disso, eu temo muito que, no curto prazo, poderemos ter um esgarçamento do tecido social brasileiro em razão do discurso de ódio e da intolerância religiosa”, alertou.

 

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