Observar as marés sempre foi um momento de contemplação e introspecção pra mim. Olhar o ir e vir de suas águas, em uma trajetória dinâmica marítima que me fazia pensar como estes ciclos propiciam vida, não somente a vida marinha, a vida humana e a não-humana, mas uma relação inter-relacionada a vida no planeta.
O dançar das águas me levam imediatamente a Orixá Iemanjá e Olocum , mãe dos mares e dos rios, a mãe cujo filhos são peixes, a mãe do mundo, senhora das cabeças (Ori) que em seu colo abraça a todos nós, nos identificando como um grande cardume diverso que descansa sobre sua proteção.
A Maré é viva e a todo o tempo luta para se fazer entender, por nós humanos, que sua função é fundamental para a nossa sobrevivência.
A sua teimosia é um exercício demasiadamente cansativo, mas ela continua insistindo conosco (coisas de mãe), já que, se ela desiste desta empreitada, os que se embalam em seu colo de mar, serão os únicos prejudicados.
Como proteger a Maré e sua prole?
A Maré é um grande bioma de vida e sustentação, uma Maré saudável e protegida, refletirá diretamente em uma vida com qualidade para esta geração e as vindouras, pois se espraiará por todas as esferas de nosso viver. Colheremos boas novas, mundo aprazível, harmônico relativamente.
Quando falo aqui desta harmonia relativa, falo em um mundo com movimentos como esta Maré viva, com várias formas de pensamentos e questionamentos.
Se não houver estes pensamentos críticos, que vai e vem, viveremos em uma sociedade sem um pensar transformador, por isso penso nesta Maré que traz o novo, nos ofertando viver embalados em suas marolas.
Os ensinamentos de Iemanjá e Olocun sobre as Marés, é muito importante para que saibamos lidar com os itinerários que devamos levar para vida e nossas convivências, e o meio ambiente em que usufruímos.
Esse apartamento e distanciamento com os ambientes e as diversas formas de vidas, muitas vezes, tentam se justificar com as maneiras e maus costumes de travar relações com algo diferente de forma inferiorizante, reagindo violentamente.
É preciso para além de escutar, é necessário ouvir as Marés e o que ela nos presenteia. A Maré e sua prole é dadivosa e uma boa mãe com bons filhos, pois com todos os ataques que ela já sofreu socialmente, historicamente e ambientalmente, ela continua insistindo em não revidar na mesma moeda.
Bastava ela pedir uma ajuda a mãe das águas (Iemanjá e Olocun) que tomasse seu partido, mas a Maré tem que cuidar dos seus revitalizando-os para um novo ressurgir encantado por seus fluxos.
Por isso é importante que protejamos a Maré, e deixemos ela viver em sua plenitude com seu cardume plural, sem a violência de investidas institucionais truculentas.
Deixemos a Maré insuflar os seus de potências transformadoras.
Peçamos licença para adentrar estes territórios Marés (Ago). peçamos licença aos filhos e filhas da Maré com respeito reconhecendo a sua legitimidade e representatividade enquanto território de resistência de vidas que aprenderam com Iemanjá os seus fluxos de reação as ações que atravessam o seu desenvolver, se utilizando de uma arrogância autoritária e supremacista.
Precisamos de novas Marés que ressurjam com novos protagonistas de suas histórias e memórias, nos ofertando outros olhares de territórios que lutam por sua forma própria de um aprendizado.
Aprendam a respeitar a Maréviva, pois a Maré Vaza, a Maré enche!
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