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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

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Rivaldo Barbosa prestou serviço para construtora enquanto comandava DH, diz PF

Ex-chefe da Polícia Civil tinha crachá para acessar sede de construtora e recebeu EPI para visitar obras, segundo a PF
25/05/2024 | 06h00

Por Igor Mello

O delegado Rivaldo Barbosa usou suas empresas para prestar serviços para a Construtora Calper ao mesmo tempo em que ocupava o posto de chefe da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, um dos cargos mais importantes da segurança pública do Rio. Os investigadores da Polícia Federal suspeitam que ele utilizou servidores e bancos de dados da corporação para elaborar relatórios para seus clientes.

A informação consta em relatório complementar elaborado, no âmbito do Caso Marielle, com base em HDs apreendidos com Érika Araújo, esposa de Rivaldo Barbosa e sócia dele nas empresas Mais I Consultoria Empresarial e Armis Consultoria Empresarial. Rivaldo está preso sob a acusação de ser coautor do assassinato da vereadora e de seu motorista Anderson Gomes. A PF também o acusa de manter um esquema de corrupção para não investigar assassinatos cometidos por pistoleiros a mando do jogo do bicho no período em que comandou a Divisão de Homicídios.

Dados oriundos da quebra de sigilos fiscal e bancário da Mais I Consultoria já tinham identificado que a empresa recebeu pouco mais de R$ 2,1 milhões da  Calper.

Rivaldo Barbosa tinha crachá e recebeu EPI da Calper, diz PF

Segundo a investigação, Rilvado Barbosa se envolvia cotidianamente em assuntos da Calper, possuindo inclusive um crachá para acesso à sede da empresa. No caso do delegado e do policial civil Rafael Aurélio de Macedo Lopes, que prestava serviços para a Mais I, as credenciais não eram identificadas. Para a PF, “possivelmente essa determinação teve o condão de ocultar o vínculo dos policiais civis com a prestação de serviços para a CALPER, através da empresa por RIVALDO/ERIKA constituída: MAIS I CONSULTORIA”. O delegado também recebeu equipamentos de proteção individual para visitar canteiros de obra.

A PF também achou um relatório baseado em estatísticas criminais no entorno de um empreendimento da Calper. O documento em questão foi enviado de um email da Divisão de Homicídios para Érika Araújo e endereços da Mais I.

O relatório diz se basear em informações públicas, a análise conta com uma tabela com dados de roubos e furtos individualizados para cada uma das ruas vizinhas ao empreendimento. O ISP (Instituto de Segurança Pública), órgão responsável por compilar e divulgar as estatísticas criminais do Rio de Janeiro, não oferece nenhuma forma de se checar as estatísticas criminais em endereços específicos –a menor regionalização possível nos dados é a das áreas de atuação de cada delegacia distrital.

“Apesar de constar no relatório de Mancha Criminal que os dados de criminalidade alipresentes possuem como origem informações presentes no banco de dados aberto do ISP-RJ(Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro), o fato de o arquivo ter sido enviado para aMAIS I e para ERIKA através do e-mail institucional da Divisão de Homicídios da Polícia Civildo Rio de Janeiro levanta indícios do envolvimento de servidor da PCERJ na confecção de talrelatório e, consequentemente, na execução de trabalhos para a empresa de ERIKA/RIVALDO,sobretudo tendo em vista que o acesso a tal e-mail deva ser restrito a um número limitado deservidores”, afirma a PF.

Procurada, a defesa de Rivaldo Barbosa e de sua esposa negou, em nota, que Barbosa prestasse diretamente serviços à Calper. “Toda a prestação de serviços de consultoria da empresa MAIS I eram realizadas por ÉRIKA ARAUJO, cuja atividade econômica não tinha qualquer vinculação a qualquer atividade policial”, diz a nota.

A defesa afirma ainda que “nunca houve emprego de sistemas ou servidores da PCRJ na prestação de serviços, tanto da MAIS I, quanto da ARMIS”. Segundo os advogados, “todos os relatórios apresentados pelas empresas MAIS I ou ARMIS tinham por base dados públicos ou próprios dos clientes”.

A coluna procurou a Construtora Calpe que, também em nota, afirmou que “à época divulgada, contratou a empresa “Mais I” de forma regular, assim como outras grandes empresas – a exemplo da Light e Brookfield – cujos pagamentos foram realizados através da emissão das respectivas notas fiscais e que sempre teve a sócia majoritária e administradora, Érika, como ponto de contato para todas as tratativas objetivando a prestação de serviço de compliance e gestão patrimonial. Importante destacar que a Calper não mantém relação contratual com a “Mais I” desde 2017”.

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