ICL Notícias

Como Eduardo Moreira havia prometido, o ICL protocolou hoje questionamentos ao Banco Central via Lei de Acesso á Informação (LAI) para esclarecer suspeita de manipulação do Relatório Focus, um dos recursos usados para estabelecer a expectativa de inflação no país.

No dia 24 de maio, Eduardo denunciou no ICL Notícias — 1ª Edição uma campanha da imprensa, que costuma estar afinada com os interesses dos bancos, contra os diretores do BC ligados ao governo Lula. O objetivo é fortalecer o grupo indicado por Bolsonaro.

Um dos exemplos apresentados foi a chamada de matéria do site Metrópoles daquele dia: “Piorou geral: Focus detona projeção para Selic, inflação, dólar e PIB“.

Dizia o texto: “Os cerca de 150 analistas consultados semanalmente em pesquisa realizada pelo BC, pioraram as projeções para os principais indicadores econômicos do país”. Eduardo comprovou que não foram “150 analistas” que emitiram essas projeções, mas poucos, que fizeram o cenário geral piorar.

“Olha o escândalo: algum ou alguns bancos pegaram e meteram 8% de inflação só para puxar a média para cima e fazer confusão no mercado”, alertou Edu Moreira. “Analista de banco nunca muda tanto, normalmente vai de 3% para 3,1%, para 3,2%. De 4% para 3,8%. Mudanças de uma semana para outra costumam ser pequenas. O que fizeram agora para manipular a opinião pública, aparentemente em combinação com os veículos de imprensa, para gerar a notícia que os meios de comunicação usariam? Como é anônimo, colocaram uma expectativa de 8%”.

Fazendo isso, explicou Eduardo, elevaram a média para enfraquecer o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enfraquecer o diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, e enfraquecer toda a área econômica do governo.

“O Broadcast faz uma pesquisa parecida com a Focus e pede para os bancos darem os nomes. Nessa versão, a expectativa de inflação para 2026 está em torno de 3% e não passa de 4,03%. No boletim Focus, botaram o 8% para poder manipular as notícias e queimar o filme do governo na economia. E forçar o BC a tomar decisão em cima de uma mentira, em cima de um respondente, que é anônimo”.

No dia 28 de maio, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) anunciou investigação para apurar o caso.

Agora, o ICL encaminhou questionamentos ao BC que podem ajudar a esclarecer o caso, listando, inclusive, episódios anteriores.

ESCÂNDALO: Edu Moreira denuncia manipulação no boletim usado para definir taxa de juros

Edifício-Sede do Banco Central em Brasília

A seguir, a íntegra do documento:

“É de conhecimento público que o Banco Central avalia as expectativas do mercado através de um questionário que dá origem ao Relatório Focus.

É importante ressaltar que o Relatório Focus é um documento público, os cidadãos têm o direito de acessá-lo de acordo com a Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011).

Sob a Lei de Acesso à Informação, qualquer cidadão têm o direito de solicitar e receber informações de órgãos públicos, como o Banco Central do Brasil, desde que não estejam protegidas por sigilo legal. Dessa forma, é possível requisitar acesso ao Relatório Focus, bem como a outros documentos e informações produzidos pela instituição, seguindo os procedimentos e prazos estabelecidos pela legislação.

Nele, são reunidas estimativas de economistas, gestores e outros profissionais de instituições financeiras e fundos de investimento. A importância do relatório não é devida somente ao fato de ser a fonte oficial destas “médias” de mercado colhidas pelo Banco Central, mas principalmente por ser um dos inputs utilizado para definição da política monetária do país.

Recentemente um evento incrivelmente atípico (para não dizer inédito) chamou a atenção, levantando justificáveis dúvidas na sociedade se não teria sido uma tentativa de manipulação de mercado realizada por uma ou mais instituições que fazem parte desta pesquisa.

Trata-se de uma mudança abrupta, sem qualquer razão aparente, das expectativas reportadas de inflação para os anos de 2026 em diante vindo de uma ou algumas instituições. Importante frisar que a mudança repentina de expectativas para inflação desta (ou destas instituições) não foi acompanhada de uma mudança repentina de nenhum outro dado econômico pesquisado pelo Focus, o que torna ainda mais estranho o fato.

A primeira vez que o estranho fato pode ser notado foi no dia 07 de fevereiro deste ano, quando a expectativa máxima para o IPCA chegou a ter uma variação de 3% para cima em relação a da semana anterior para os anos de 2027 e 2028, fato inédito neste relatório. Coincidentemente a data era também a data de divulgação da Ata do Copom.

Vale notar que era uma ata de uma reunião que teve decisão unânime e previamente antecipada em relação a trajetória da taxa de juros, ou seja, nada que justificasse qualquer mudança de expectativas, principalmente a maior de todos os tempos. Duas semanas depois, no dia 22 de fevereiro, a instituição (ou instituições) que haviam aumentado inexplicavelmente sua expectativa voltaram atrás e a expectativa máxima recuou para os níveis anteriores também sem qualquer razão aparente a não ser a possível tentativa de manipulação de mercado.

Como o fez no dia 22, não apareceu no relatório do fechamento de mês onde poderíamos saber através das frequências relativas das previsões quantas instituições foram responsáveis pela mudança. Parece também proposital esta mudança antes da elaboração do relatório.

Recentemente, no dia 10 de maio o mesmo fato voltou a acontecer. Inexplicavelmente as taxas máximas estimadas do IPCA para 2026 em diante voltaram a subir de uma semana para outra abruptamente. Curiosamente, a mediana e a taxa mínima não se alteraram, demonstrando que novamente a mecânica foi a mesma, uma ou poucas instituições aparentemente tentando manipular o mercado “puxando a média” para cima. Novamente, os outros dados pesquisados pelo Focus não trouxeram grandes alterações, a mudança aconteceu somente na expectativa de inflação.

Desta vez porém, o fato foi acompanhado (também de maneira estranha) por uma série de matérias de jornais que davam conta de uma “deterioração geral” dos dados do relatório FOCUS. Num típico exemplo de profecia autorrealizável, já é possível observar uma contaminação destas manchetes nos relatórios das semanas seguintes, não por piora de indicadores econômicos, mas por efeito contágio de expectativas criadas aparentemente de maneira artificial para manipular o mercado.

Dada a importância para o país da consequência destes fatos, que geram de maneira artificial temor em investidores, aumento das taxas praticadas no mercado e em última instância podem até interferir nas decisões sobre a taxa de juros do país, gerando prejuízos bilionários ao país, gostaríamos de ter acesso as seguintes informações de interesse público:

  1. O nome da (ou das) instituições que aumentaram sua expectativa de maneira abrupta e inédita nos dias 07 de fevereiro de 2024 e 10 de maio de 2024.
  2. A justificativa destas instituições para tal aumento de expectativas e o porquê de não terem alterado de maneira significativa suas outras expectativas em relação aos dados econômicos pesquisados pelo relatório Focus.
  3. O nome da (ou das) instituições que diminuíram suas expectativas de maneira abrupta no dia 22 de fevereiro de 2024 e a razão desta diminuição
  4. Se as instituições responsáveis por estas variações de fevereiro são bancos, corretoras ou fundos de investimento
  5. O nome das instituições (ou da instituição) que aumentou sua expectativa de maneira abrupta novamente em 05 de maio de 2024
  6. Se o Banco Central notou quaisquer movimentações relevantes nos mercados de juros ou títulos públicos próximo a estas datas, realizado por alguma destas instituições que alteraram suas expectativas de maneira abrupta
  7. Se a variação da expectativa máxima nestes relatórios e da média das expectativas (alterada por estas mudanças abruptas) foi utilizada como input para qualquer decisão tomada pelo Banco Central
  8. O que o Banco Central planeja fazer para evitar tentativas de manipulação que se utilizem de artifícios como estes narrados acima

Agradecendo antecipadamente

Eduardo Moreira”.

 

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