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EXCLUSIVO: Rivaldo diz que existiam suspeitas sobre os Brazão em 2018, mas não apurou

Indícios sobre os mandantes foram comunicados a delegado em reunião, mas investigação caminhou em sentido oposto
03/06/2024 | 20h58

Com Igor Mello

Em depoimento à Polícia Federal, o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia do Rio, afirmou que o nome dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão entrou no radar da Polícia Civil entre um e dois meses depois da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL).

A coluna teve acesso com exclusividade ao termo de depoimento do delegado, colhido nesta segunda-feira (3) pela Polícia Federal.

Rivaldo Barbosa está preso sob a acusação de ajudar no planejamento da morte de Marielle e de seu motorista Anderson Gomes.

Apesar de relatar que o delegado Giniton Lages — sua indicação pessoal para comandar a investigação — trouxe a informação, ele não soube explicar porque a conclusão da primeira fase do inquérito, em que Ronnie Lessa foi indiciado como executor de Marielle, seguiu em direção oposta. O relatório final de Lages aponta que Lessa cometeu um “crime de ódio”, linha de investigação que blindou os mandantes.

Segundo Rivaldo conta no depoimento, ele ouviu sobre um possível envolvimento dos irmãos Brazão entre abril e maio de 2018, em reunião com Giniton Lages e o general Richard Nunes, então secretário de Segurança do Rio durante a intervenção federal decretada por Michel Temer.

“Apesar de não ter tido acesso aos autos, GINITOU lhe indicou que representava por diversas cautelares em detrimento de CHIQUINHO BRAZÃO e DOMINGOS BRAZÃO”, disse Rivaldo.

Questionado pela PF sobre o motivo pelo qual o inquérito seguiu a linha de um crime de ódio, ele jogou a responsabilidade para Giniton Lages, seu protegido: “O declarante [Rivaldo] diz que esta pergunta deve ser direcionada a GINITON”, resume o documento da PF.

Em sua colaboração premiada, o ex-PM Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle e Anderson, afirma que Rivaldo atuou em conluio com os irmãos Brazão desde o planejamento do crime e, na condição de chefe da Polícia Civil, usou seu poder para auxiliar na obstrução da investigação. A defesa de Rivaldo Barbosa nega a acusação.

Rivaldo queria nomear delegado preso por envolvimento com o jogo do bicho

No depoimento, Rivaldo Barbosa também revela que articulou a nomeação do delegado Allan Turnowski como um dos membros da cúpula de sua gestão à frente da Polícia Civil, no início de 2018. Contudo, teve que voltar atrás após conversa com general Richard Nunes.

Na época, Turnowski já havia sido chefe da Polícia Civil uma vez, mas foi demitido do cargo em fevereiro de 2011 após ser acusado de vazar informações sobre a Operação Guilhotina — investigação da PF que prendeu 30 policiais no Rio por envolvimento com o crime organizado — para um policial a quem era ligado.

Posteriormente, ele voltou a comandar a corporação — dessa vez com status de secretário — durante o governo Cláudio Castro (PL). Deixou o cargo em 2022 para concorrer a deputado federal pelo PL, mas foi preso em setembro do mesmo ano, durante a campanha eleitoral, sob a acusação de receber propina do jogo do bicho e participar de um plano do bicheiro Fernando Ignácio para matar o desafeto Rogério Andrade.

A nomeação de Rivaldo foi desaconselhada pela Ssint (Subsecretaria de Inteligência) da Secretaria de Segurança do Rio, mas o parecer foi ignorado por Richard Nunes.

Posteriormente, a Ssint também se posicionou contra a escolha do delegado Gilberto Ribeiro para compor a equipe de Rivaldo Barbosa na cúpula da Polícia Civil, mas a recomendação também foi ignorada.

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