Nós precisamos conversar sobre o envelhecer, o fim da vida e a vida antes do fim. Minha avó tem 94 anos e há dois vive em uma casa de idosos. Ela odeia, eu odeio que ela odeie e não tem como não odiar viver sem ter as rédeas da própria vida. Ela dá sinais leves de senilidade, mas está, na maior parte do tempo, consciente de quem é e onde está. Ela detesta que digam a hora de comer, tomar banho e descansar. Dona Ermelinda foi sempre a tradução de liberdade e independência.
Nós precisamos conversar sobre o câncer. Todos os dias alguém se descobre no enfrentamento dessa doença tão traiçoeira e solitária. O que dizer para alguém diante desse dilema? Pacientes, sobretudo em início de tratamento de tumores agressivos e raros, têm dificuldade de encontrar informação porque as pessoas têm medo e vergonha de falar a palavra “câncer”.
Nós precisamos conversar sobre o sentimento de inadequação, sobre quando sabemos que não “cabemos”, mas insistimos em ficar em espaços e relações que nos aprisionam. Por que ainda é tão difícil pedir ajuda? E por que a gente não admite o desconforto?
Nós precisamos conversar sobre desejo, sexo, menopausa. Sobre a escolha de ter ou não filhos sem medo do julgamento alheio. Nós precisamos falar sobre dinheiro, sobre competição dentro do casamento, sobre inveja entre amigos, sobre a falta de paciência com os pais idosos.
Eu me permiti um raro final de semana de folga, tenho trabalhado demais. Em um dia e meio encontrei algumas das mulheres mais importantes da minha vida para conversar. Passamos por todos esses temas permeados por momentos de risos e algumas lágrimas. “Precisamos conversar mais”, uma delas me disse. Eu concordo. Acho também que essas conversas, de alguma forma, precisam ir para o mundo. Essa coluna tem sido um mundo para mim. Que tal tentar? Me digam vocês então, sobre o que nós precisamos conversar aqui?
Te vejo na próxima conversa, combinado?
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