Por Ana Carolina Caldas — Brasil de Fato
Uma revista intitulada A Turma do Curitibinha — Proteção Animal, com objetivo de tratar sobre os direitos dos animais, vem sendo distribuída nas escolas municipais de Curitiba. O Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac), no entanto, ao tomar conhecimento do conteúdo da história em quadrinhos, detectou que o material reforça estereótipos preconceituosos em personagens afrodescendentes, em contraposição aos personagens brancos, que recebem qualidades positivas tanto nas características físicas como nas falas.
Segundo a descrição do material feita na nota de denúncia do sindicato, a forma como os personagens negros e pardos estão representados reforça o racismo já fortemente presente em nossa sociedade.
“Enquanto o personagem principal, que dá o nome à turma, é branco e tem olhos verdes, e uma de suas amigas é branca, loira e de olhos azuis (o que reforça padrões de beleza), chama-se Graciosa e é descrita como meiga, delicada e dedicada aos estudos (comportamentos idealizados para meninas brancas), a outra personagem, que é negra, tem o apelido Zezé”, diz a nota do sindicato.
“Pior ainda é relegar ao menino que carrega características típicas de uma criança parda (visivelmente no nariz e no cabelo) o perfil de um mau-caráter. E ele ainda tem o nome de Fosco, que por si só é bastante negativo, afinal, o termo quer dizer apagado, sem brilho. Além disso, ele é o que tem comportamento inadequado, faz comentários distorcidos e, com frequência, é retratado como tendo menos inteligência”, completa a nota.
Para a diretora de Imprensa e Divulgação do Sismmac, Adriane Silva, é muito grave o material ser prescrito pela Secretaria Municipal de Educação (SME).
“A direção do sindicato repudia esse material repleto de estereótipos que reforçam o racismo estrutural tão tristemente já vivenciado por nossas crianças no cotidiano. A escola precisa ser um espaço antirracista, que promova a formação de um cidadão que possa vir a transformar a nossa sociedade e não a reproduzir esse mundo excludente onde já vivemos”, diz
Também é grave esse material ser prescrito pela SME, que deixou passar uma análise mais criteriosa. Comprovando o uso utilitário de textos feitos por encomenda, em detrimento do amplo material já disponível na prática social comunicativa,” conclui.
O sindicato ainda denuncia que o personagem pardo colocado como o mau-caráter da história recebe linguagem inadequada para crianças. “Em uma das revistas, ele é descrito como ‘sacana’, o que, segundo o dicionário Houaiss, se atribui a ‘quem é libertino, devasso, sensual (…) que ou quem tem mau-caráter’.”
Para o Sismmac, a criação de personagens em histórias em quadrinhos, especialmente quando direcionadas ao público infantil, deve ser realizada com sensibilidade, mas o material distribuído pela SME contribui para a perpetuação do racismo e da discriminação entre crianças menores. “Por isso, a Prefeitura precisa, com urgência, rever sua distribuição”.
A vereadora Giorgia Prates (PT) levou o material em uma reunião com a secretária municipal de educação, Maria Silva Bacila, que disse não ter conhecimento da elaboração do material e que tomaria providências.
Sindicato: material racista
A descrição do material na internet diz que a edição tem a autoria do cartunista e que, numa parceria entre a Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba e a Prefeitura de Curitiba, tem o objetivo de “passar a mensagem da importância do respeito também aos animais não humanos, abordando temas ligados à guarda responsável, adoção de cães e gatos abandonados e combate ao tráfico de animais silvestres em Curitiba.”
O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a assessoria da SME e até o fechamento da matéria não obteve retorno.
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