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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

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Mensagens mostram que Bolsonaro acompanhou recompra de Rolex feita por Wassef

O advogado viajou até a Pensilvânia para reaver o relógio que tinha sido vendido ilegalmente
09/07/2024 | 05h00

Ayam Fonseca*, Igor Mello, Juliana Dal Piva e Karla Gamba

Frederick Wassef foi designado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) para recomprar e levar, de forma oculta, o relógio Rolex que compunha o denominado “kit ouro branco” ao Brasil. De acordo com o relatório da Polícia Federal (PF), a recuperação do Rolex ficou a cargo do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, que viajou aos Estados Unidos para realizar a compra do relógio. Além disso, mensagens trocadas entre Bolsonaro e Wassef mostram que o ex-presidente falou com o advogado e acompanhou os passos dele nos EUA durante o processo de recompra do relógio.

No dia 13 de março de 2023, Bolsonaro enviou mensagens a Frederick Wassef com cópias de imagens que mostravam pesquisas de voos saindo de Miami e de Fort Lauderdale, na Florida, para a Pensilvânia, onde o advogado efetuou a recompra do relógio.

Outra pessoa com quem Wassef se comunicou naqueles dias foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Na manhã do dia 14/03/2023, data da recompra do relógio Rolex, Wassef recebeu uma mensagem às 11h41min do senador dizendo: “Saudade”. O advogado respondeu: “Estou na luta por vcs com lealdade e empenho de sempre”. Cabe ressaltar que Flávio encaminhou uma mensagem de texto anterior, que foi apagada pelo próprio remetente. Nesse dia, Wassef também telefonou para Bolsonaro por áudio no WhatsApp.

Viagem de Wassef acompanhada por Bolsonaro

No dia 11 de março de 2023, Wassef chegou aos EUA. Os registros de viagens internacionais de Wassef, atestam que o advogado fez uma viagem saindo de São Paulo, com destino a Fort Lauderdale, na Flórida. De lá, ele pegaria outro avião com destino a Pensilvânia, estado onde se encontrava o relógio vendido por Bolsonaro.

De acordo com o documento da PF, o voo AD8702 é realizado pela companhia AZUL e teve saída prevista de Campinas, na data de 11/03/2023, às 10:00 -03 e chegada em Fort Lauderdale, Flórida

No dia 14/03/2023 — três dias depois de sua chegada ao EUA –, Wassef embarca num avião com destino a Filadélfia, na Pensilvânia, onde foi feita a recompra do Rolex. Ele envia uma mensagem a Cid — “Toquei solo agora” — e anexa uma foto de dentro o avião.

Entrega do Rolex

Além da recompra do Rolex, Frederick Wassef também ficou responsável por trazer o relógio de volta ao Brasil, e entregá-lo as mãos de Mauro Cid, que foi a São Paulo no dia 29/3/2023 para acompanhar uma competição de hipismo de suas filhas.

Nesse mesmo dia, Cid encaminha uma reportagem a Marcelo Camara que dizia “TCU determina que Bolsonaro entregue imediatamente terceira caixa de joias e alerta sobre omissão”, que responde dizendo que o relógio já estava em São Paulo.

Conversa entre Mauro Cid e Câmara a respeito da entrega do Rolex

No dia 2/4/2023, Mauro Cid entra em contato com Wassef mais uma vez passando sua localização, na Sociedade Hípica Paulista, onde foi feito o repasse do relógio.

“Conforme mensagens trocadas entre Mauro Cid, Marcelo Câmara e Frederick Wassef, ficou evidente que o relógio chegou em São Paulo no dia 29 de março de 2023, quando Marcelo Camara afirma ‘Material em São Paulo’. Este é o mesmo dia em que Frederick Wassef retorna ao Brasil, vindo dos Estados Unidos. No entanto, Mauro Cid, possivelmente, só ficou com a posse do relógio no dia 02 de abril de 2023, após um encontro na Sociedade Hípica Paulista, com Frederick Wassef. No final do dia 02 abril, Mauro Cid retornou para Brasília, onde foi recebido por Crivelatti de forma semelhante à ocorrida no resgate das joias, dias antes”, conclui o documento.

Osmar Crivelatti e Marcelo Câmara

O documento também mostra conversas entre Mauro Cid, Osmar Crivelatti e Marcelo Camara, que orquestraram a recompra do bem. Em uma das mensagens, Cid encaminha aos dois o link do site da Precision Watches, na Pensilvânia. A Precision Watches foi a loja que comprou o Rolex do “kit ouro branco”.

O relatório também mostra troca de mensagens entre Cid e Crivelatti a respeito da compra de passagens partindo de Fort Lauderdale com destino a Pensilvânia.

 

Em resposta ao site Metrópoles, Frederick Wassef enviou a seguinte nota: “Estive nos Estados Unidos a passeio e a negócios. Fiquei no país por quase um mês, onde me reuni com diferentes clientes, entre eles, Jair Bolsonaro. No período, também visitei locais turísticos em Nova York, Orlando e Miami, como mostram fotos e vídeos registrados por mim e que estão em posse da Polícia Federal. Sobre as videochamadas que a PF alega ter em meu celular com Jair Bolsonaro, é normal, visto que sou advogado dele e sempre falamos com frequência. Estão distorcendo as informações e tirando do contexto para me prejudicar”.

*Estagiário sob supervisão de Juliana Dal Piva

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