Rinaldo Seixas Pereira, o Apóstolo Rina, fundou a Bola de Neve Church em 2000. Antes, atuou como líder de jovens na Igreja Renascer em Cristo do Apóstolo Estevam Hernandes.
As primeiras reuniões da Bola de Neve aconteceram no galpão de uma loja de surf. Atualmente, segundo fontes oficiais do grupo religioso, são mais de 300 igrejas no Brasil e em outros países. [1]
Primeira onda
Nas eleições de 2022, sabe quem foi o maior doador das campanhas de Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas? Fabiano Campos Zettel, empresário, investidor no setor imobiliário e pastor da Igreja Bola de Neve em Belo Horizonte.
A candidatura do Bolsonaro à reeleição recebeu de Zettel R$ 3 milhões, enquanto Tarcísio, que pleiteava o governo de São Paulo, foi agraciado com R$ 2 milhões. Tudo devidamente registrado e declarado nas planilhas do Tribunal Superior Eleitoral. [2]
Estamos de acordo que cada um faz do seu dinheiro o que quiser. Quem fala em doação, pensa em motivação. Correndo o sério risco de ouvir um — “não é da sua conta” — houve quem perguntasse a Zettel o que o levou a doar tal montante. A resposta foi lacônica, mas, suficientemente reveladora: “Convicções pessoais e valores cristãos de família conservadora”. [3]
Segunda onda
Na crônica policial brasileira frequentemente aparecem casos de violência doméstica. Não é incomum os tribunais de justiça ordenarem medidas protetivas de urgência quando mulheres denunciam seus maridos ou companheiros e há indícios que, de fato, estão em perigo dentro de casa.
O ineditismo fica por conta da condição do suposto agressor. Imagina um apóstolo sendo acusado pela própria esposa de autoria de lesão corporal, ameaça, injúria, difamação e violência psicológica!
Rinaldo Luiz de Seixas Rina, fundador e líder da Igreja Bola de Neve, conhecido como o Apóstolo Rina, foi notificado na última quarta-feira (10) pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Deveria entregar sua arma de fogo em 48 horas. Desdobramento do inquérito policial que foi instaurado em junho, após denúncias de violências feitas pela esposa do apóstolo, pastora Denise Seixas.
Para além do escândalo, convém lembrar que medida protetiva não é o mesmo que sentença de condenação. Por mais que o lavajatismo midiático tenha avacalhado a juris tantum, a presunção da inocência continua valendo. Portanto, o Apóstolo Rina é inocente até provem o contrário.
Mas, convenhamos, o estrago de ordem moral já está feito. O Apóstolo Rina, que surfa no bolsonarismo justificando que está numa cruzada pelos “valores cristãos de família conservadora”, parece distraído quanto à sua própria conduta dentro de casa.
A medida protetiva em questão supõe que tal líder religioso é uma ameaça para a sua própria esposa. Além de tirá-lo de perto, por prudência, determinou tirar das suas mãos armas de projéteis que alcançam longas distâncias.
Ressaca moral
A Bola de Neve nasceu como igreja com estética pé na areia. Cortejam a juventude como público-alvo. Jovens do tipo: nem tanto aos modos e costumes do pentecostalismo, nem tanto ao tradicionalismo das denominações evangélicas históricas.
Roupagem dos guetos urbanos (surf, rock, tatuagens, piercings, skate etc.) e discurso conservador (valores cristãos de família conservadora à bolsonarismo).
A prancha de surf como marca registrada dos púlpitos das igrejas da Bola de Neve foi forrada pela Bandeira do Brasil como adesão política eleitoral.
O grupo que nasceu com pretensões de vocalizar um discurso evangélico de vanguarda se transformou numa versão do “terrivelmente evangélico” bolsonarista.
[1] “Rinaldo Seixas Pereira, o Apóstolo Rina”. Disponível em: http://apostolorina.com.br/. Acesso em: 16/07/2024
[2] Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais. Eleição Geral Federal 2022. Disponível em: https://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/eleicao. Acesso em: 12/07/2024
[3] Pastor Evangélico é o maior doador da campanha de Bolsonaro. Eleições 2022. Revista Oeste (Redação). 21 de outubro de 2022. Disponível em: https://revistaoeste.com/politica/eleicoes-2022/pastor-evangelico-e-o-maior-doador-da-campanha-de-bolsonaro/. Acesso em 12/07/2022.
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