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Em resposta a matéria publicada nesta quarta-feira (31) na coluna de Juliana Dal Piva, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) afirmou que vê com extrema preocupação o aparelhamento de um órgão público para descredibilizar o trabalho da imprensa. A publicação revelou que agentes da “Abin paralela” fizeram consultas no sistema First Mile com três números de telefones, que depois foram utilizados para forjar conversas entre o jornalista do ICL, Leandro Demori, e os ex-deputados federais Jean Wyllys e David Miranda.

“As provas reunidas pela investigação mostram claramente o passo a passo de uma estratégia que em nada tinha relação com preservar o interesse público”, declarou Katia Brembatti, presidente da Abraji.

Brembatti defendeu ainda a apuração e punição dos envolvidos:

“Trata-se de uma artimanha usada recorrentemente em países autocráticos: criar uma narrativa inventada para atacar quem ousa mostrar que o governo não está cumprindo o seu papel. Essa ação ilegal precisa ser apurada e punida”.

‘Abin paralela’ foi utilizada em ataque a Demori e Jean Wyllys

Segundo a matéria, agentes da chamada “Abin paralela” fizeram consultas no sistema First Mile, no dia 7 de junho de 2019, com três números de telefones que depois foram utilizados para forjar conversas entre o jornalista do ICL Leandro Demori e os ex-deputados federais Jean Wyllys e David Miranda.

As falsas mensagens, utilizadas para atacar os três, foram depois postadas a partir de um perfil no Twitter nomeado de “Pavão Misterioso”. É o que mostra uma investigação feita pela coluna com base em informações colhidas pela PF durante a Operação Última Milha.

Pavão Misterioso divulgou telefone monitorado pela 'Abin paralela'

Pavão Misterioso divulgou telefone monitorado pela ‘Abin paralela’

A fraude foi usada para tentar descredibilizar o editor responsável pelas reportagens da Vaza Jato e contou com apoio do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ). As pesquisas no First Mile foram feitas dois dias antes da publicação da primeira reportagem da Vaza Jato e nove dias antes do perfil no Twitter vir a público — o que afasta a tese de que os agentes fizeram as consultas após a repercussão das alegações falsas.

A Polícia Federal (PF) investiga o papel de Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, junto ao esquema criminoso que funcionou dentro da agência entre 2019 e 2022.

Abin: críticas

Artur Romeu, diretor do escritório da Repórteres Sem Fronteiras para a América Latina, disse que as “revelações trazidas pela reportagem são extremamente graves e indicam que agentes da Abin espionaram ilegalmente jornalistas e que chegaram a forjar conversas para desacreditar o trabalho da imprensa”.

“O uso da máquina pública para espionar e atacar jornalistas vai na contramão da proteção da liberdade de imprensa e da própria democracia. O uso ilegal de identidade de Leandro Demori para comprar um chip telefônico e forjar conversas que seriam usadas posteriormente por perfis em redes sociais para atacar o jornalista revela o grau de ilegalidade da ação cometida pelos agentes da Abin no governo Bolsonaro. O uso de espionagem para descobrir crimes já é, por si só, condenável. Mas usar de espionagem para forjar conversas de cunho político para descredibilizar o trabalho de um jornalista é ainda pior. É um atentado não só contra o jornalista atacado, mas também contra toda sociedade, induzida a desconfiar do trabalho da imprensa”, afirmou Romeu.

 

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