Por Felipe Mendes — Brasil de Fato
Dezenas de intelectuais, acadêmicos, artistas, representantes de entidades e movimentos populares brasileiros assinaram manifesto coletivo pedindo o fim do genocídio em Gaza. O objetivo é pressionar o governo brasileiro a se manifestar de maneira enfática contra os crimes contra a humanidade cometidos por Israel, além de suspender acordos militares e de segurança com os israelenses.
O manifesto, que pode ser lido na íntegra no fim deste texto, está aberto para novas assinaturas por meio da plataforma Avaaz — que vai intensificar a campanha por meio de iniciativas nas redes sociais nos próximos dias. No início da tarde de hoje, mais de 2,8 mil pessoas já tinham manifestado adesão aos termos do documento. Para assinar, clique aqui.
“É urgente paralisar o massacre perpetrado por Israel, enfrentar a brutal ocupação militar dos territórios palestinos da Cisjordânia e Faixa de Gaza, a anexação ilegal e limpeza étnica de Jerusalém Oriental, o sistema de segregação, humilhação e apartheid exercido sobre os palestinos de toda a Palestina histórica, incluindo o território do Estado de Israel onde representam 20% da população”, diz trecho do documento.
O manifesto será lançado publicamente na próxima quinta-feira (9), às 18h, em ato público no auditório Milton Santos, no prédio de História e Geografia do Campus Butantã da Universidade de São Paulo (USP).
Entre as primeiras pessoas a assinar o documento estão a historiadora Anita Leocádia Prestes, a filósofa Marilena Chaui, o jornalista Breno Altman, fundador do Opera Mundi, e a professora de História Árabe da USP, Arlene Clemesha.
Arlene Clemesha explicou que o manifesto surgiu em meio a diálogos entre alguns dos intelectuais e acadêmicos que fazem parte da primeira lista de assinantes. O ato público foi pensado posteriormente, para dar espaço para que as pessoas se pronunciem pessoalmente sobre a gravidade da situação em Gaza.
“As pessoas estão indignadas e foram se falando. Foram surgindo ideias. Essa é uma ação conjunta, uma ação coletiva. O objetivo é chegar num ponto que, uma vez lançado e com todas as assinaturas, de encaminhar isso para as autoridades, para o governo federal”, disse.
MANIFESTO
“Estamos diante de um momento na História em que silenciar-se equivale a compactuar com um dos mais brutais genocídios que a humanidade já viu. A contagem dos mortos cresce num compasso que desafia a imaginação. A cada dez minutos, uma criança é enterrada sob os escombros.
Em três semanas, contabilizam-se 8 mil mortos, sem contar as centenas cujos nomes não foram registrados porque permanecem anônimos debaixo de pilhas de concreto e arame retorcido. As crianças marcam seus nomes nos braços para não virarem números, para que suas identidades possam ser preservadas em algum registro, alguma memória.
Não há mais cemitério na Faixa de Gaza, apenas valas comuns. Não há mais ingenuidade, nem infância, pois os jovens que restam estão traumatizados pelo resto de suas existências.
Diante desse quadro, o silêncio torna-se impossível. É urgente paralisar o massacre perpetrado por Israel, enfrentar a brutal ocupação militar dos territórios palestinos da Cisjordânia e Faixa de Gaza, a anexação ilegal e limpeza étnica de Jerusalém Oriental, o sistema de segregação, humilhação e apartheid exercido sobre os palestinos de toda a Palestina histórica, incluindo o território do Estado de Israel onde representam 20% da população, a transformação da Faixa de Gaza em uma prisão a céu aberto, onde toda uma geração já nasceu, cresceu e em boa parte, morreu, sem ter a permissão de conhecer uma franja sequer do mundo ao seu redor. São prisioneiros de um gueto que hoje virou, definitivamente, um campo de extermínio.
Diante da falência do sistema internacional, da cumplicidade e conivência da União Europeia, do apoio incondicional e ultrajante dos Estados Unidos, apelamos às autoridades para que o governo brasileiro:
I) sinalize de maneira enfática que não estamos dispostos a compactuar com o crime contra a humanidade em perpetuação na Faixa de Gaza; nem com a sua extensão, já em curso, para toda a Cisjordânia;
II) se una a todos os países que estejam dispostos a sustentar a lei internacional de maneira clara e consequente na Palestina;
III) revogue imediatamente todos os acordos militares e de segurança já firmados com o Estado de Israel;
IV) apoie a reativação do Comitê da ONU contra o crime de apartheid, para que ele possa averiguar e encaminhar para julgamento o caso atualmente em curso no território da Palestina histórica.
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