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Campanhas dividem preocupação com Marçal e somam forças nas frentes política e jurídica

PT, MDB, PSDB e PSB discutem regras para próximos debates e acionam Justiça Eleitoral para conter danos
25/08/2024 | 09h41

Por Carlos Petrocilo, Carolina Linhares e Joelmir Tavares

(Folhapress) — Campanhas adversárias de Pablo Marçal (PRTB) dividem a preocupação com o crescimento do influenciador nas pesquisas e a avaliação de que ele joga fora das regras do processo democrático ao recorrer a ataques agressivos e driblar normas de impulsionamento nas redes.

As equipes de Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) somam esforços em diversas frentes para enquadrar o autodenominado ex-coach, seja exigindo regras nos debates, acionando a Justiça contra ele ou expondo as acusações a que responde.

Marçal subiu 7 pontos na mais recente pesquisa Datafolha e está empatado na liderança da disputa pela prefeitura. Ele marcou 21%, no mesmo patamar de Boulos, que oscilou de 22% para 23%, e de Nunes, que foi de 23% para 19%.

Nos bastidores e de maneira informal, integrantes das campanhas adversárias conversam entre si sobre os riscos que veem em Marçal e possíveis medidas contra ele, embora cada uma adote sua própria estratégia em relação ao influenciador.

Campanhas decidem sobre ida a debates

Nunes, Boulos e Datena decidiram faltar ao último debate, realizado pela revista Veja, depois de considerarem que regras do encontro anterior, realizado por Faap e “O Estado de S. Paulo”, não foram cumpridas. Tabata e Datena, por sua vez, subiram o tom contra Marçal em vídeos divulgados na sexta-feira (23). Na arena judicial, ações de Tabata e Boulos miram a candidatura do empresário.

Neste sábado (24), a Justiça Eleitoral determinou a suspensão dos perfis de Marçal em redes sociais até o final das eleições. A decisão, em caráter liminar, foi concedida na ação movida pelo PSB.

Representantes ouvidos pela reportagem evitam especular sobre eventual derrubada da candidatura de Marçal durante a campanha. A maior preocupação transparecida nos relatos é a de que ele se submeta aos ritos da disputa e cumpra obrigações que pesam sobre os demais candidatos, como as regras de debate, condutas básicas de civilidade e a legislação eleitoral como um todo.

Em relação à organização dos próximos debates, discutida em reuniões quase diárias entre veículos de comunicação e assessores das campanhas, há sintonia entre os adversários para exigir punição mais rigorosa. Ou seja, além do direito de resposta, o pedido comum é para que os candidatos possam ser penalizados com advertência verbal ou perda de parte do seu tempo.

A ideia é evitar as brechas que Marçal encontrou no debate do último dia 19, em que levou ao palco um documento (a carteira de trabalho), usou boné e filmou bastidores com a ajuda de sua equipe — atitudes proibidas pelas regras.

Em reuniões nos últimos dias, as campanhas cobraram que organizadores que optem pelo convite a Marçal se comprometam a assegurar que ele não usará os espaços para deflagrar tumulto.

Presença de plateia em discussão

Outra reclamação comum às campanhas é a presença de plateia nos debates, já que os convidados acabam se manifestando e servindo de claque para Marçal. Os candidatos também pleiteiam uma restrição maior no número de assessores que cada um pode levar.

A situação é descrita como surpreendente e atípica, já que em eleições anteriores nunca se conviveu com um postulante com o perfil tão provocativo e inconsequente quanto o de Marçal, que não só desafia regras, mas também reincide nos comportamentos.

Ao contrário de Nunes, Boulos e Datena, Tabata não cogita abrir mão de participar dos debates pois quer se tornar mais conhecida. A avaliação no entorno da deputada é que ela ajuda a expor a fragilidade do influenciador ao confrontá-lo com perguntas sobre temas que ele não domina e propostas para a cidade.

Em outra frente, as campanhas decidiram expor as polêmicas de Marçal, como a condenação por fazer parte de uma quadrilha que aplicava golpes bancários e a proximidade com pessoas suspeitas de ligação com o PCC. A questão do crime organizado é tema de vídeos divulgados por Tabata e por Datena.

Em relação ao tucano, trata-se de uma virada. Antes do Datafolha desta quinta (22), enquanto aparecia em terceiro lugar, Datena direcionava sua artilharia contra Nunes e tratava os demais concorrentes com cordialidade. Agora, partiu para o ataque ao associar Marçal e integrantes do seu partido ao PCC.

Nunes conta com maior tempo de TV

A equipe de Nunes, que terá mais da metade do tempo de TV, também quer levar ao eleitor as reportagens que revelam polêmicas de Marçal e já tem contado com a ajuda da família Bolsonaro nesse sentido. Como mostrou a Folha de S. Paulo, Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos resolveram abrir fogo contra o influenciador.

A principal aposta contra Marçal, contudo, está na Justiça Eleitoral. Advogados de diferentes campanhas ouvidos pela reportagem fizeram a mesma comparação ao tratar da disparidade da força dele nas redes — se Datena teve que se afastar da TV Bandeirantes para não contar com mais audiência que os demais, Marçal tampouco poderia usar uma estrutura de rede que torna a disputa desigual.

Para integrantes das equipes adversárias, há abuso de poder econômico por parte de Marçal ao pagar para seguidores replicarem seus cortes nas redes. Duas ações pedem a investigação e o julgamento do influenciador com base nesse argumento: uma é a de Tabata, que teve decisão desfavorável para Marçal, e a outra é movida pelo Ministério Público Eleitoral.

A ação de Tabata é acompanhada de perto pelas demais campanhas, que tiveram conhecimento da iniciativa antes mesmo do protocolo. Além do PSB, as equipes jurídicas de outros partidos têm mantido interlocução informal com a Promotoria e com o TRE a respeito da possibilidade de barrar Marçal.

A campanha do PSB também acionou a Justiça por causa de irregularidades na convenção do PRTB.
Integrantes do MDB dizem avaliar entrar com processos contra o autodenominado ex-coach, mas ponderam se o efeito de muitas ações com os mesmos objetos seria ruim ou bom para o adversário.

Boulos

O candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSOL Guilherme Boulos (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

Boulos acionou Marçal por ataques

A campanha de Boulos, além de rebater ataques e provocações, tachando o candidato do PRTB de “psicopata” e “mentiroso compulsivo”, entrou com ações para que o adversário excluísse postagens com alusão a uso de cocaína e para ter direitos de resposta nas redes dele, o que chegou a ser concedido, mas depois foi suspenso temporariamente.

Nos bastidores, admite-se que os ataques têm um alcance infinitamente superior aos desmentidos e que a dimensão de Marçal no universo digital é uma arma que nenhum outro concorrente possui.

Já Datena, além da ofensiva contra o candidato do PRTB e de se preservar de debates que considera de baixo nível, quer aumentar a presença nas redes sociais. No Instagram, ele possui quase 960 mil seguidores, enquanto Marçal contabiliza mais de 12 milhões.

Recentemente, o canal do jornalista passou a ser alimentado diariamente com vídeos e fotos. O próprio Datena admite que, hoje, só está utilizando as redes em razão da campanha.

“Eu acompanho muito pouco [a rede social]. A nossa equipe está se esforçando muito para fazer uma de primeira qualidade”, afirma. “Agora tem muito canalha que se esconde atrás de IPs”, completa em referência a Marçal.

 

SAIBA MAIS:

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