Desde quando a cabeça doía na sala de aula por causa das tranças apertadas pela minha avó, escuto os professores de geografia: “A Amazônia é o pulmão do mundo”; “Se a Amazônia acabar o mundo se acaba”.
A floresta está se acabando, o pantanal está se acabando, os pulmões estão se acabando na fumaça, as cidades estão se inundando, o país está esquentando e um certo apocalipse ronda, mas estamos muito preocupados … com o bloqueio da rede social X.
Alguém pode dizer: “Mas uma coisa não anula a outra. Dá para se preocupar com as questões climáticas, sentir saudade da rede social e debater onde agora vamos depositar opiniões não solicitadas, cancelar artistas e divulgar trabalhos, publis…”. Não, não dá por um motivo simples: Este é um não problema existencial (já vivemos e ainda podemos viver perfeitamente sem mais uma rede), mas não vivemos sem oxigênio e sem água.
Se o Brasil for dividido em quatro partes iguais, um destes gomos já viu o fogo nos últimos 40 anos. Um levantamento divulgado em junho deste ano pela plataforma MapBiomas mostrou que, nas últimas quatro décadas, cerca de 1/4 do território nacional foi queimado ao menos uma vez, especialmente em áreas de vegetação nativa. Ao todo, 199,1 milhões de hectares registraram pelo menos um episódio de fogo entre 1985 e 2023. Mata nativa…
De acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ), este ano o fogo consumiu 3,2 milhões de hectares da Amazônia. No Pantanal, quase 1,9 milhão de hectares foi consumido pelo fogo, atingindo 12,5% do território. Cidades de dez estados registraram episódios de fumaça e diminuição na qualidade do ar. Repito, DEZ estados.
Redes sociais são uma realidade do nosso tempo. Não há muito como escapar delas para os negócios, debates políticos, divertimento, informação, etc. No entanto, toda essa história passou de todos os limites. Elon Musk e suas patacoadas extrapolaram o tolerável em muitos níveis. Era preciso relembrá-lo que não recebeu votos em nenhum processo eleitoral por aqui.
Desviar a atenção do fogo indecente e assassino que consome o território nacional, dando espaço em dobro para um bilionário estrangeiro mimado e mal-intencionado dono de uma rede social, é no mínimo insano, mas coerente com quem se fascina com seus milhões aplicados em viagens espaciais enquanto as coisas estão críticas bem aqui, na terra firme do planeta Terra.
Não há o que argumentar quando, por conta do dinheiro que jorra dos seus bolsos, um gringo cafona e cheio de caras e bocas acha que pode mandar na soberania de uma nação do tamanho do Brasil. Não há o que dizer quando parte da população do país mais concentrador de renda do mundo, resolve defender um sujeito que faz disso o seu projeto de poder. Apoiam e defendem enquanto estão com a cabeça baixa curvados ao deus smartphone, tossindo com a bronquite provocada pela desgraça.
Um quarto do chão do Brasil já agoniza… e contando.
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