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Esquerda tem chances reais de vitória em 5 das 10 maiores cidades de MG, avalia especialista

PT, de Lula, é a sigla que mais concorre entre os municípios; PL, de Bolsonaro, vem logo em seguida
05/09/2024 | 09h37

Por Lucas Wilker — Brasil de Fato 

Ao todo, 50 candidatos disputam as prefeituras das 10 maiores cidades de Minas Gerais nas eleições de 2024. Belo Horizonte, Uberlândia, Contagem, Juiz de Fora, Montes Claros, Betim, Uberaba, Ribeirão das Neves, Governador Valadares e Divinópolis estão entre os municípios mais populosos do estado.

O PT, de Lula, é a sigla que mais concorre entre as localidades, presente em sete cidades. Já o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, disputa em seis. Especialistas apontam que o cenário tende a ser polarizado, mas também acenam com otimismo para possibilidade de vitória da esquerda em pelo menos cinco dos municípios.

“Nos casos de reeleição, em geral, nós temos um quadro em que as atuais prefeitas, de Contagem e Juiz de Fora, Marília Campos e Margarida Salomão, estão em nítida vantagem para vencer as eleições mais uma vez”, observa o cientista político Estevão Cruz.

Segundo a última pesquisa do Datatempo, Marília Campos (PT) tem 64,6% de intenções de voto, uma nítida vantagem em relação ao segundo colocado, que aparece com 9,8%. Já em Juiz de Fora, a candidata Margarida Salomão (PT), segundo pesquisa do instituto Real Time Big Data, tem 33% das intenções de voto, com uma diferença de 10% para a segunda colocada.

A candidata do PT em Contagem, Marília Campos, lidera pesquisas com 64,6% das intenções de voto (Foto: Brasil de Fato)

Em Uberaba, segundo o especialista, o cenário é de difícil leitura, já que a atual prefeita, Elisa Araújo (PSD), enfrenta dois ex-prefeitos com grande popularidade, Anderson Adauto (PV) e Paulo Piau (PSDB).

Em Divinópolis, de acordo com ele, o candidato à reeleição Gleidson Azevedo (Novo) é quem tem chances de vitória. O atual prefeito tem fortes ligações com o bolsonarismo, com o senador Cleitinho (Republicanos) e com o governo de Romeu Zema (Novo).

Sucessão

Nas cidades em que não há candidaturas para reeleição, a configuração é mais aberta, com nomes que representam sucessões dos atuais governos e figuras que aparecem como novidade.

“Basta a gente ver, por exemplo, a situação de Uberlândia, em que o atual prefeito, Odelmo Leão (Progressistas), fez dois mandatos com altíssima popularidade, mas, agora, quem tem liderado as pesquisas é a candidata do PT, a jovem Dandara Tonantzin”, destaca Estevão Cruz.

Para ele, a mesma coisa pode acontecer em Betim, que, depois de duas gestões Vittorio Medioli (Sem partido), tem chances de não eleger a candidatura de Heron Guimarães (União Brasil), apoiada pelo atual prefeito, culminando em uma vitória da oposição, representada por Vinícius Resende (PV). Uma pesquisa feita pelo instituto Real Time Big Data aponta apenas 4% de vantagem para o candidato do União Brasil.

Em Governador Valadares, o cenário também é parecido, de acordo com o cientista político, com reais chances de vitória para Leonardo Monteiro, do PT.  Neste ano, a cidade não terá segundo turno, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O órgão divulgou que o número de eleitores aptos a votar na cidade em 2024 é de 198.486. Para haver segundo turno, é preciso de, no mínimo, 200 mil eleitores.

A cidade perdeu 15.400 eleitores, desde a última eleição municipal, e a queda tem a ver com o fluxo migratório e com o número de mortos pela Covid-19.

Ao analisar o cenário das 10 cidades, Estevão Cruz aponta chances reais de vitória da esquerda em, ao menos, cinco dos municípios, três deles sendo um dos mais populosos do estado, no caso de Contagem, Juiz de Fora e Uberlândia.

A deputada federal Dandara Tonatzin, candidata a prefeitura de Uberlândia (Foto: Câmara dos Deputados)

Diversidade

Dos 50 candidatos nessas 10 cidades, apenas 12 são mulheres. Sete são autodeclarados pretos, outros sete autodeclarados pardos e uma candidatura se autodeclara indígena.

A esse baixo número de candidaturas femininas, Bernadete Esperança, da Marcha Mundial das Mulheres, atribui a culpa ao agravamento do patriarcado e ao aumento do conservadorismo.

“Impedindo que as mulheres se coloquem para estar nesse espaço de representação institucional da política. Mas também criando espaços de expulsão das mulheres por meio da violência. Tem várias pesquisas mostrando que a violência política de gênero tem aumentado nos últimos anos. Isso faz com que várias mulheres se sintam inibidas”, afirma.

No entanto, ela avalia como positivo o fato de que, em 10 dessas cidades, três candidaturas de mulheres estão em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais.

Mais do que pensar na questão identitária, Luiz Quadros, professor de Teoria do Estado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta que a diversidade entre as candidaturas precisa ser acompanhada pela perspectiva da interseccionalidade. Ou seja, os candidatos e candidatas precisam se preocupar com a defesa de direitos das populações LGBTI+, das mulheres, dos negros, dos povos originários, quilombolas e com os mais pobres.

“Tem que vir sempre acompanhado de uma crítica à sociedade e ao sistema econômico. É fundamental, porque senão isso vai servir para fazer no jogo da direita e até mesmo da extrema direita, que muitas vezes se disfarça para estar nesses lugares”, explica.

“A discussão de classe não pode ser abandonada. A opressão econômica e a necessidade de superação desse sistema capitalista individualista competitivo e egoísta é fundamental e não pode ficar de lado em nenhum momento”, continua.

A prefeita Margarida Salomão concorre à reeleição em Juiz de Fora (Foto: Prefeitura Juiz de Fora)

Polarização com bolsonarismo

Em relação à diversidade de partidos, a presença notória do PT e do PL chama a atenção. No Brasil, a porcentagem de candidatos do PL aumentou 52,7% na comparação com o pleito municipal anterior, de 2020. Enquanto o partido de Bolsonaro está em quarto lugar na lista geral em quantidade de candidatos, o PT, de Lula, está em quinto.

“Se nós tivemos ao longo de três décadas, pós-Constituição de 88, uma polarização do PT com o PSDB, nós temos inegavelmente agora uma polarização com o bolsonarismo. Então, é natural que essa polarização nacional se expresse agora nas disputas municipais, principalmente nos grandes centros”, analisa Estevão Cruz.

Apesar disso, o cientista político chama a atenção para o fato de que o partido de Bolsonaro não necessariamente aparece competitivo nas disputas.

“Em Contagem, o adversário de Marília Campos é do PL, mas a diferença de intenção de votos é gigante. Em Juiz de Fora, a principal adversária de Margarida é do Avante. Em Divinópolis, o atual prefeito e candidato à reeleição é do Novo. Na maioria dos casos, o PL ainda tem situação coadjuvante na disputa política local”, observa.

A importância das eleições municipais de 2024 e o desafio das cidades mineiras

Luiz Quadros aponta que, atualmente, a democracia representativa está seriamente comprometida, especialmente pelas notícias falsas, construídas cientificamente para afetar determinados grupos de pessoas, e potencializadas pelas novas tecnologias e a inteligência artificial.

“A extrema-direita tem gerado propositalmente o ódio. É uma guerra de afetos e, contra esse afeto radicalizado e negativo do ódio, a gente precisa resgatar o amor, ou seja, usar o afeto positivo.  Avalio o atual momento das eleições, não só nessas cidades, mas as eleições em todas as cidades do Brasil, no contexto da guerra de afeto”, ressalta.

Para Estevão Cruz, um desafio comum a todas as cidades é o desenvolvimento econômico e social.

“ As cidades mineiras ficaram muito atrasadas. Se a gente pegar a capital do estado, Belo Horizonte, nos últimos 20 anos, perdeu em industrialização, perdeu pujança econômica, perdeu capacidade de investimento. E isso se refletiu também em desorganização, enfraquecimento de uma série de políticas sociais e de bem-estar da população”, opina.

Ao mesmo tempo, segundo ele, a disputa ocorre em um contexto de reconstrução do Estado brasileiro e de políticas públicas, potencializadas pelo governo Lula.

“Essas eleições municipais são muito importantes para a ajudar a construir uma outra correlação de forças: a vitória do campo popular democrático, do campo progressista é muito fundamental, para que o próprio governo Lula, nos dois anos finais deste mandato, possa ter mais condições de implementar o programa para o qual ele foi eleito”, realça.

Candidatos das 10 maiores cidades de MG

  • Belo Horizonte

Carlos Viana (Podemos)
Bruno Engler (PL)
Duda Salabert (PDT)
Fuad Noman (PSD)
Rogério Correia (PT)
Gabriel Azevedo (MDB)
Wanderson Rocha (PSTU)
Lourdes Francisco (PCO)
Indira Xavier (UP)

  • Uberlândia

Dandara Tonantzin (PT)
Daphiny Oliveira (PRTB)
Gilberto Cunha (PSTU)
Leonídio Bouças (PSDB)
Paulo Sérgio (PP)

  • Contagem

Cabo Junio Amaral (PL)
Dulce Monte (PMB)
Gustavo Olímpio (PSTU)
Marília Campos (PT)
Sebastião de Oliveira Pessoa (PCO)

  • Juiz de Fora

Charlles Evangelista (PL)
Ione Barbosa (Avante)
Isauro Calais (Republicanos)
Júlio Delgado (MDB)
Margarida Salomão (PT)
Victoria Mello (PSTU)

  • Montes Claros

Délio Pinheiro (PDT)
Guilherme Guimarães (UB)
Maurício da Santa Casa (PL)
Paulo Guedes (PT)
Ruy Muniz (PSB)
Fábio Máquinas (PMN)

  • Betim

Dr. Vinicius (PV)
Heron Guimarães (UNIÃO)
Pedro Betinense (MOBILIZA)
Zulu (PCB)

  • Uberaba

Adriano Espíndola (PSTU)
Anderson Adauto (PV)
Elisa Araújo (PSD)
Paulo Piau (PSDB)
Samir Cecílio (PL)
Tony Carlos (MDB)

  • Ribeirão das Neves

Diogo Fernandes (Novo)
Túlio Raposo (PP)
Vicente Mendonça (PT)

  • Governador Valadares

Coronel Sandro (PL)
Leonardo Monteiro (PT)
Renato Fraga (Republicanos)
Robson Gomes Natal (Mobiliza)

  • Divinópolis

Gleidson Azevedo (Novo)
Laiz Soares (PSD)

 

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