Por Luana Lisboa
(Folhapress) — O número de efetivação de doações de órgãos apresentou uma queda de 4,6% em relação ao ano passado e em 10% à taxa projetado para o ano, aponta relatório do 1º semestre da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos).
Já a taxa de doadores de órgãos ficou 2% abaixo da obtida no ano passado e 7,1% menor que a taxa prevista para este ano até junho. Enquanto a taxa de doadores efetivos ficou em 19,5 procedimentos para cada 1 milhão na população (pmp), a do ano passado foi de 19,9 pmp. A taxa prevista era de 21 pmp. A contagem é feita dessa forma para considerar a densidade populacional de cada estado.
A baixa na taxa de efetivação dos transplantes aconteceu devido a uma maior taxa de não autorização de familiares e, também, de contraindicação médica, ante às taxas previstas. A outra variante relacionada à efetivação é taxa de notificação dos potenciais doadores, que foi superior em 4,2% à de 2023 e em 3,1% à taxa projetada para 2024.
As negativas familiares configuram um dos principais desafios para a doação de órgão, cuja lista de espera em junho chegava a 64.265 pacientes ativos, conforme o relatório. Dessa quantidade, 35.695 esperam por um rim.
No primeiro semestre deste ano, 1.793 pessoas morreram aguardando na fila, sendo 46 crianças.
Doações devem ser autorizadas por familiares
De acordo com a legislação brasileira, mesmo que a pessoa declare em vida que é doadora, a doação deve ser autorizada pela família após a sua morte, o que Raul Canal, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem) vê como um contrassenso. “A vontade do paciente deve ser respeitada mesmo depois da sua morte”, afirma.
A desigualdade na distribuição de infraestrutura e equipes especializadas em diferentes estados, a logística de transporte de órgãos e a falta de campanhas de conscientização mais abrangentes em regiões mais carentes continuam a ser obstáculos significativos para o aumento do número de transplantes, aponta Gustavo Ferreira, membro do conselho de administração da ABTO.
Os estados do Paraná, Santa Catarina e Rondônia tiveram as maiores taxas de doadores. Os dois primeiros, historicamente, costumam apresentar altas taxas. Rondônia surpreendeu ao crescer no número de doadores, mas, não cresceu no número de transplantes, diz Ferreira.
“O número de transplantes não conseguiu acompanhar, ou seja, a estrutura de captação de órgãos está funcionando, mas a de transplantes ainda não conseguiu ter sua capacidade plena, ainda estão trabalhando nesse sentido”, afirma.
O estado de São Paulo, por sua vez, caiu no número de doadores no mesmo período em relação ao primeiro semestre de 2023, de 529 para 400 doadores.
“Para melhorarmos, deve-se continuar investindo em campanhas de conscientização e melhorar a infraestrutura hospitalar para conseguir ter maior capacidade de identificar e efetivar as doações”, acrescenta.
Análise por órgãos
No país, o transplante de coração obteve um aumento de 9,5% em relação a 2023, mas ficou 4,2% abaixo do previsto para o ano.
Já o transplante de pulmões (0,4 pmp) ficou com taxa 50% menor que a projetada (0,8 pmp). Da mesma forma, o transplante de pâncreas (0,6 pmp) ficou 33,3% abaixo da taxa prevista (0,9 pmp).
A ABTO diz que tem um semestre árduo pela frente e que para obter a meta prevista para o ano, “é preciso trabalhar nas três frentes: aumentar a doação, melhorar o aproveitamento dos órgãos e colocar em lista de espera todos os pacientes com indicação de transplante”.
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