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Pedro Barciela

Autor no blog Essa Tal Rede Social, estuda e atua na área de monitoramento e análise de redes sociais com foco em política e campanhas eleitorais.

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A complexidade do debate sobre as queimadas e a apatia dos clusters políticos

Governo e oposição dão sinais de não compreenderem o peso do debate sobre as queimadas no país
14/09/2024 | 09h28

O debate — e a preocupação — com as queimadas que assolam o país cresceu não apenas nas ruas, mas também nas redes. Com um volume de interações que no Instagram | Facebook superou até mesmo os gerados por menções ao presidente Lula nas últimas 72h, as manifestações dos usuários clama por protagonistas e abre espaço para uma mobilização nacional no combate aos efeitos dos incêndios e das mudanças climáticas no país. No entanto, o campo político-partidário dá fortes indícios de não compreender o momento histórico que vivemos.

O tema se desenvolveu durante o período ignorando qualquer restrição ligada à polarização política, em parte pela incapacidade de ambos os polos políticos em dialogar com a pauta. As críticas à ausência de políticas públicas, a falta de fiscalização e a ineficiência das instâncias de poder representam parte importante das publicações, ainda que não a maioria, e registram o governo federal como o ator mais citado se comparado aos poderes municipais e estaduais. A demora em adotar medidas preventivas e a ausência de investimentos no Ibama e na Defesa Civil, por exemplo, são flancos de críticas ao Planalto. Já no geral, entre os atores mais responsabilizados pelos incêndios estão o setor agropecuário como um todo, com ênfase para grileiros e empresas do agronegócio, com uma espécie de persona atrelada aos “grandes fazendeiros”.

Entre os perfis que mais geraram interações citando o tema, destaque para a ausência de um maior volume de atores ligados ao cluster de extrema-direita

Para além de qualquer uso político do tema, o caráter viral e o buzz gerado pela pauta está diretamente atrelado a preocupações e impactos ligados à saúde (30% das publicações analisadas) da população por meio da poluição do ar. Este tema desperta interesse pelo uso de rankings para apontar o nível crítico em cidades como São Paulo-SP e Porto Alegre-RS. A agropecuária segue sendo apontada como a “vilã” desse momento, sendo tema central em 20% das publicações analisadas sobre o tema. Anúncios do Governo e as cobranças por ações de combate e fiscalização representa 15% das publicações. Por fim, o debate sobre consequências climáticas a longo prazo fica restrito a 10%.

É importante também ressaltarmos a “regionalização” dessa catarse. A qualidade do ar, a poluição extrema e o impacto no cotidiano das cidades é destaque no Sudeste, enquanto no Sul a chegada da “fumaça das queimadas” e a “chuva preta” gera preocupação. No Centro-Oeste (15%), imagens do Pantanal em chamas e debates sobre os impactos na fauna e flora dividem espaço com debates sobre os impactos no agronegócio e na economia regional (15%). No Norte (30%), os milhares de focos de incêndio que afetam o bioma é destaque.

Em suma, é nítida a possibilidade — e necessidade — de um debate amplo e liderado pelo governo federal sobre o tema. As manifestações retratam problemas regionais mas que, na prática, só serão enfrentados com políticas nacionais e os usuários sabem disso. Os últimos dias nas redes sociais nos mostram o que pode ser uma importante janela de oportunidade para que o governo não apenas paute, mas também avance no debate e propostas para lidar com as mudanças climáticas no país, usando para isso o buzz gerado pelos catastróficos incêndios que assolam o país.

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