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Indígena Guarani-Kaiowá é assassinado pela PM no Mato Grosso do Sul

Jovem foi morto durante uma operação contra a retomada da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu
18/09/2024 | 17h55

Uma ação da Polícia Militar (PM) na cidade de Antônio João, no Mato Grosso do Sul, resultou na morte de um indígena Guarani-Kaiowá nesta quarta-feira, 18. A vítima, identificada como Neri Guarani-Kaiowá, de 22 anos, teria sido morta a tiros durante uma operação policial contra a retomada das terras da Fazenda Barra, na Terra Indígena Ñande Ru Marangatu.

Além da morte de Neri, uma indígena também foi ferida na perna. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) ainda informou que os agentes de polícia destruíram os barracos da retomada.

Sem o auxilio da Força Nacional, que não está presente no local, os indígenas seguem sob repressão da polícia. O Cimi informou que os agentes no local alteraram a cena do crime e levaram o corpo do jovem para uma região na mata, impedindo que a família e a comunidade tivessem acesso ao morto.

Essa ação provocou a ira dos Guarani-Kaiowá, que passaram a avançar para o local em que o corpo foi levado, gerando novos confrontos.

A Deputada Federal Célia Xakriabá (PSOL/MG), comentou sobre o ocorrido. “São muitas as violações nesse episódio, a começar pelo fato de que, mesmo sendo um território indígena, a Força Nacional não estava em área, e a ação da Polícia Militar não foi fundamentada em nenhuma decisão judicial”, denuncia a deputada. “Até o momento de escrita deste ofício, a polícia militar e a polícia civil não permitiram que a família e a comunidade chegasse perto do jovem assassinado, tendo ‘arrastado o corpo para a mata’, de acordo com as lideranças locais”, continua.

A operação teria tido início ainda na madrugada de terça para quarta, atendendo à ação judicial pedida pela advogada Luana Ruiz — membra do Partido Liberal (PL) e filha dos fazendeiros Roseli Maria Ruiz e Pio Queiroz Silva donos da Fazenda Barra, que sobrepõe as terras indígenas –, pedindo ação da PM no local.

Retomada da terra indígena

Os indígenas retomaram as terras sobrepostas pelas fazenda na última quinta-feira, 12, quando sofreram o primeiro ataque da PM, no qual três indígenas saíram feridos.

No mesmo dia, o desembargador Ricardo Duarte Ferreira Figueira, da 1ª Vara Federal de Ponta Porã, a pedido de Luana Ruiz, ordenou o “policiamento ostensivo na localidade”, que tem mantido os indígenas sitiados na localidade.

Com a chegada de agentes da tropa de choque da PM na última terça-feira, 17, os policiais atacaram a comunidade durante a madrugada. Segundo testemunhas, Neri foi executado pelos policiais.

Jovem Neri Guarani-Kaiowá, morto a tiros durante operação da PM (Foto: Povo Guarani-Kaiowá)

Ao jornal O Globo, o coordenador jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Mauricio Terrena, disse que essa situação de violência tem acontecido há semanas.

“O que a gente tem recebido de informação é que os indígenas resolveram fazer o processo de autodemarcação diante da inércia do Estado em avançar com os ritos demarcatórios e houve uma retaliação por parte do governo do Mato Grosso do Sul, ao mobilizar todo o seu contingente de policiais militares para atuar naquela terra indígena”, pontuou o coordenador.

Na manhã desta quarta-feira, 18, a deputada Xakriabá encaminhou um ofício urgente ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e a outras autoridades, denunciando o assassinato na TI Ñande Ru Marangatu.

Na denúncia, a deputada pede a suspensão imediata das operações policiais na Terra Ñande Ru Marangatu, a instauração de inquérito para investigar o assassinato do jovem Neri e a presença da Força Nacional de Segurança para garantir a proteção dos povos indígenas.

Ela também pede uma reunião de emergência com o Ministro da Justiça para tratar das denúncias de violência e omissão do Estado em relação à proteção das comunidades locais.

Por fim, Xakriabá ressaltou a sua indignação com a intensificação da violência contra os povos indígenas, especialmente os Guarani-Kaiowá.

“A violência não é uma ação isolada, mas sim uma repetição intensificada pelo desrespeito aos territórios indígenas e aos direitos humanos das comunidades tradicionais. Muitos territórios no país vêm sofrendo com a organizações de grupos que ignoram a estrutura institucional e atuam ilegalmente para realizar despejos e interditos com o uso de força e armas e acumulando casos de assassinatos”, afirmou a parlamentar.

 

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