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Vídeo publicado pelo motoboy Wanderlei Luz, de Salvador, na Bahia, viralizou nas redes sociais — são mais de um milhão de visualizações — e causou comoção entre os internautas. Debaixo de chuva, ele fez a gravação exclusivamente para o filho, o pequeno João Bernardo, de 3 anos, diagnosticado com autismo nível 2 de suporte.

“Sou motoboy, sou pai do João Bernardo, autista, de 3 anos, nível 2 de suporte, não-verbal. Essa mesma ‘bag’ que carrega o seu pedido, carrega o meu sonho de ver o meu filho falar”, diz Wanderlei.

No vídeo, o motoboy diz que, “faça chuva ou faça sol”, segue “correndo atrás dos sonhos” do filho. Wanderlei ainda faz questão de mostrar a “bag”, onde está estampada uma foto de João Bernardo.

“Eu trocaria tudo nessa vida, tudo. Viraria um andarilho para realizar esse sonho. Eu não desisto nunca de você, viu, meu filho?”, acrescenta Wanderlei.

 

Ao portal BHAZ, o motoboy afirmou que seu “único propósito de vida é ver o filho se comunicar”. Wanderlei disse também que mesmo cansado, “sem vontade nenhuma de trabalhar” e ainda sofrendo preconceito diário nas ruas, costuma fazer vídeos para incentivar as pessoas. “Não desistam dos seus filhos com deficiência”, pediu.

De acordo com Wanderlei, João Bernardo agora conta com apoio de um psicólogo, um terapeuta ocupacional e um fonoaudiólogo. O motoboy disse ainda que o garoto também vai começar a frequentar um fisioterapeuta, já que anda na ponta dos pés.

“Ele já tem o contato visual, que antes não tinha. O problema dele é a fala. A gente quer que ele fale de qualquer jeito, até pela própria segurança dele. Só eu e a mãe dele sabemos o que ele quer, o que precisa, quando está doente ou triste. A gente conhece ele pelo gesto, pelo olhar”, contou.

CONDIÇÕES DE TRABALHO

Má remuneração, muitas horas de trabalho, poucos dias de descanso e nenhum direito trabalhista. Esses são só alguns dos muitos problemas enfrentados pelos entregadores de aplicativos como Wanderlei, e o crescimento dessas plataformas nos últimos anos faz a discussão a respeito da precarização desse trabalho estar cada vez mais em alta.

Com o objetivo de apresentar uma perspectiva histórica sobre os motoboys, como são popularmente conhecidos, o Doutorando do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH-UFF), Lucas Santos Souza, desenvolveu sua tese sobre o impacto da plataformanização das entregas no trabalho dos entregadores.

Realizada nas ruas da cidade do Rio de Janeiro nos meses de agosto, setembro e outubro de 2021, a pesquisa consultou 500 entregadores, de bicicleta e motocicleta, em doze pontos espalhados pelo município. A primeira diferença notada pelo pesquisador é com relação à jornada de trabalho: os resultados mostram que 73% dos entrevistados trabalham uma média de 63 horas e 42 minutos por semana. Atualmente, o valor pago por hora para um assalariado que recebe salário mínimo é de R$5,92.

No caso dos entregadores que trabalham de motocicleta, a quantia líquida recebida é de R$5,83 por hora, enquanto a dos ciclistas é de R$5,05. Para chegar a esses valores, foi necessário retirar os custos com combustível, aluguel de bicicletas, alimentação e todo o resto que eles precisam gastar no dia a dia de trabalho.

A fim de fazer uma comparação, a pesquisa mostra a diferença significativa das médias líquidas recebidas por hora entre os motoboys informais ou com carteira assinada e os de aplicativos, sendo R$7,52 e R$5,68, respectivamente. Além disso, dentre esses trabalhadores, 73,8% se autoidentificaram como pretos ou pardos, e apenas 2% como mulheres.

Diferentemente dos motoboys, que começaram a seguir essa profissão nas décadas de 80 e 90, e da ideia que é propagada pelos aplicativos, a maioria dos entregadores entrevistados não tinha a visão de que terceirizar seu trabalho para esses aplicativos seria uma forma de empreender.

“O que é supervalorizado na categoria dos entregadores é a autonomia que eles têm nas entregas, uma ausência de fiscalização ali o tempo todo. Mas o que acontece é que o gerenciamento existente nessas plataformas, que é o algoritmo, pode ser até mais severo. Ele não aparece na forma de uma pessoa, mas você não pode recusar entregas, senão você é bloqueado. Toda a lógica de como é o gerenciamento via algoritmo, como ele é pensado e projetado, acaba sendo mais severo. Então, o discurso empreendedor que achei que ia encontrar é quase inexistente”, conta Lucas.

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