Por Amanda Miranda — Newsletter Passando a Limpo
Considerado um dos estados mais bolsonaristas do Brasil e tomado por operações policiais que resultaram na prisão por corrupção de 28 prefeitos entre 2020 e 2024, Santa Catarina vai às urnas neste domingo observando uma polarização que já projeta os movimentos de 2026: de um lado o PL, comandado pelo governador Jorginho Mello, e do outro partidos com força política no Estado e que formam o chamado centrão no vocabulário político: MDB, PP e PSD.
Os partidos mostram sua força pelo volume de candidaturas a prefeito. Santa Catarina tem 295 municípios, destes 187 têm candidatos ao cargo pelo PL, 180 pelo MDB, 110 pelo PP, 98 pelo PT e 94 pelo PSD.
Mas é este último que promete brigar por espaço nas eleições ao governo elegendo seus candidatos nas principais prefeituras do Estado: chega com vantagem nas pesquisas em Criciúma, lidera com folga em Joinville, onde compôs com o Novo, aguarda um possível segundo turno em Blumenau, ao lado do mesmo partido, e é favorito em Chapecó e São José. Além disso, pode ter uma importante vitória em Balneário Camboriú, cidade em que o filho de Jair Bolsonaro tenta eleição à Câmara.
Já o PL briga com mais força em Blumenau, Itajaí e Brusque, mas também trava disputas equilibradas em Criciúma e São José. Concórdia, no Oeste, é outro município em que os partidos duelam com equilíbrio. O partido do governador também tem força em Palhoça, oitavo maior eleitorado do Estado, mas lá também está em confronto direto com o PSD.
A rivalidade entre PSD e PL dá as caras até mesmo em Florianópolis, onde os partidos estão coligados e Topázio Neto (PSD) tem chances de vencer no primeiro turno. O PL tem a vice na chapa, Maryanne Matos, e contribuiu com 36,24% da receita da campanha de R$ 5,1 milhões, a mais rica da capital. Lideranças do PSD apareceram pouco em Florianópolis, escolhendo fincar suas forças em São José, cidade ao lado, em que travam com PL uma disputa voto a voto.
O movimento é visto como um balão de ensaio para 2026. Isso porque o ex-deputado federal João Rodrigues (PSD), bolsonarista de carteirinha, ensaia sua pré-candidatura circulando pelo Estado mesmo sendo ele candidato à reeleição em Chapecó. Enquanto Jorginho Mello se licenciou para fazer uma rota de campanha, Rodrigues também viajou. “Tem candidato que acha que é só colocar o adesivo do PL no peito para representar os ideais conservadores”, provocou, em ato de apoio ao candidato Orvino Coelho de Ávila (PSD), em São José.
Florianópolis é esperança para a esquerda
No meio do mapa, uma Ilha é o que se pode chamar de exceção nas disputas entre conservadores que dominam a política de Santa Catarina. Em Florianópolis, o candidato do PSOL, Marquito tem possibilidade de ir ao segundo turno, caso a eleição não se resolva no primeiro.
Liderança em ascensão no partido após ser eleito vereador e deputado estadual, Marquito tem como pauta central a agroecologia, as questões climáticas e a mobilidade, mas não conseguiu costurar uma aliança com o PT, PSB e PC do B, que se reuniram em torno de Vanderlei Lela (PT), atrás nas pesquisas mais recentes do 100% Cidades.
Marquito recebeu R$ 1 milhão pelo fundo eleitoral, numa campanha cinco vezes mais modesta do que a do principal adversário, o prefeito Topázio Neto. No domingo, também pode ser pego de surpresa pelos adversários de centro, que estão todos muito próximos numericamente, com destaque para o ex-prefeito Dario Berger (PSDB), que se reveza com ele no posto de vice-líder em diferentes pesquisas que circularam na cidade.
Prefeitos presos por corrupção
Os catarinenses também vão às urnas neste domingo com um histórico de 28 prefeitos presos em operações policiais nos últimos quatro anos. Fraudes na coleta de lixo, nos serviços funerários e no transporte escolar estiveram em evidência em uma relação que também é hegemonicamente formada por bolsonaristas.
MDB, PL, PSD, Patriotas, PP, Republicanos, Podemos e PSDB integram os partidos com gestores municipais respondendo à justiça. O PT também teve uma prefeitura alvo de operações. Curiosamente, PSD e PL também duelam no quesito prefeitos presos: o PL tem cinco e o PSD quatro. O MDB lidera o ranking, com oito. PP também somou cinco prefeitos com problemas judiciais.
A última dessas prisões, de Clésio Salvaro (PSD), em Criciúma, foi tratada por ele como “manobra política”. “Ninguém é preso de graça”, disse o governador Jorginho Mello à Rádio Som Maior ao rebater o prefeito e demonstrar mais uma vez que a rivalidade entre PL e PSD no Estado deve durar mais que uma estação.
O PSD reagiu por meio do seu diretório chamando a fala de “desespero político” e tentando capturar o eleitor bolsonarista radical. A nota do partido diz não ser por acaso que Mello “se ausentou do ato de 7 de setembro, convocado por Jair Bolsonaro, e que Silvinei Vasques, preso por um ano sem processo ou condenação, preferiu integrar um governo do PSD, recusando os convites do PL”.
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