Por Joelmir Tavares
(Folhapress) — Após a confirmação de sua ida ao segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) disse que quer dialogar com quem não votou nele e também deseja mudança na cidade, numa crítica ao adversário Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito.
“Quero também dialogar com aqueles e aquelas que não votaram na gente no primeiro turno”, afirmou o deputado em pronunciamento ao lado da candidata a vice, Marta Suplicy (PT), neste domingo (6).
“A enorme maioria do povo de São Paulo votou pela mudança, e agora no segundo turno é isso que vai estar em jogo”, completou, falando que aqueles que não estão satisfeitos com a situação da segurança, da saúde pública e do transporte coletivo devem votar nele.
Apoiado pelo presidente Lula (PT), o candidato do PSOL subiu o tom contra Nunes, reforçando a estratégia de lembrar que o emedebista é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), relativiza a obrigatoriedade das vacinas contra a Covid-19 e minimiza os ataques de 8 de janeiro.
“Do lado de lá nós temos uma pessoa com uma trajetória muito suspeita”, disse, mencionando “histórico de relação” de Nunes com o crime organizado e com o tráfico de drogas, com a infiltração de organizações em contratos públicos. O deputado afirmou ainda que o prefeito “tem que responder por boletim de ocorrência de violência contra a mulher”, em alusão ao caso registrado pela primeira-dama em 2011.
Boulos agradece apoio de Tabata Amaral
Boulos agradeceu pela declaração de apoio de Tabata Amaral (PSB) e disse que também buscará outros candidatos derrotados no primeiro turno que entendem, segundo ele, a “gravidade” da situação. A campanha quer procurar José Luiz Datena (PSDB), candidatos derrotados.
O tucano já disse que não apoiará ninguém, mas aliados lembram que ele e Boulos têm uma relação amistosa e que o apresentador fez duros ataques a Nunes durante a campanha, o que pode fazê-lo declarar voto no psolista. A direção nacional do PSDB, no entanto, anunciou endosso ao prefeito.
No discurso, Boulos fez acenos à periferia, dizendo que foram os eleitores periféricos que o levaram para o segundo turno, mas também falou a moradores de outras áreas, pregando que “uma cidade mais justa e mais igual é mais segura” e que “combater desigualdades é bom para todos”.
Boulos e seus aliados acompanharam a apuração sob tensão, em um clube em Santa Cecília (região central), num clima que só desanuviou pela primeira vez quando ele ultrapassou Pablo Marçal (PRTB), com cerca 30% das urnas apuradas. Nesse momento, houve comemoração com gritos e palmas. A imprensa não teve acesso ao espaço onde estava o candidato.
Nas expectativas mais otimistas da campanha, baseadas em pesquisas, a vontade era que Boulos tivesse a maior votação do primeiro turno e enfrentasse Marçal, contra quem o deputado teria mais chances, segundo as simulações de segundo turno nas pesquisas. Apesar disso, a avaliação é positiva.
Falando a apoiadores reunidos no clube, o candidato do PSOL disse que “agora é guerra” e lembrou o poderio do lado adversário, com as máquinas da prefeitura e do governo do estado, já que Nunes é apoiado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), além da aliança partidária extensa.
A principal estratégia vai ser tentar emular a ideia de frente ampla formada em 2022 em torno da candidatura de Lula para derrotar Bolsonaro. O presidente, maior fiador da candidatura de Boulos, incentivou a nacionalização do pleito municipal, evocando uma espécie de terceiro turno entre seu grupo político, que se autodenomina do campo democrático, e o bolsonarismo.
Com as pesquisas emboladas até a véspera, as campanhas ainda afinam as estratégias de segundo turno, já que não estava claro quais concorrentes passariam à etapa seguinte.
Segundo pesquisa Datafolha deste sábado (5), véspera do primeiro turno, em uma simulação de segundo turno entre Nunes e Boulos, haveria 52% de intenções de voto para o prefeito e 37% para o representante do PSOL. Uma parcela de 10% optaria pelo voto branco ou nulo e 1% disse não saber como votaria.
Como Bolsonaro ficou distante do primeiro turno, o confronto direto com o bolsonarismo acabou comprometido, o que a campanha de Boulos espera compensar agora nas próximas semanas. O ex-presidente declarou apoio a Nunes, mas sem entusiasmo, enquanto seu eleitorado e parte dos aliados se empolgaram com Marçal.
Ainda neste domingo, Boulos sinalizou que usará retórica semelhante à de Lula dois anos atrás, ao falar em uma campanha “contra o ódio e a mentira” e dizer que pretende representar a esperança de uma cidade melhor e apostar em propostas que atendam o cidadão mais pobre e combatam as injustiças.
Para Boulos, a ida à próxima fase representa um alívio momentâneo após o risco de ficar fora do segundo turno e, com isso, impor uma derrota também a Lula.
Na primeira eleição municipal de São Paulo sem o PT com cabeça de chapa em uma candidatura, Boulos enfrentou dificuldade para ser associado ao padrinho Lula. Sofreu também para atrair eleitores que apoiaram o petista em 2022 e que historicamente votam no PT, como os de baixa renda e moradores da periferia. A expectativa agora é que o mandatário tenha uma atuação mais forte nas ruas e na articulação política.
O presidente foi menos presente na cidade do que a campanha de Boulos esperava, apesar de ter aparecido nas propagandas. Desmarcou a presença em um dia de atos e adiou uma live, o que foi atribuído a compromissos da agenda. O presidente esteve em dois comícios, no dia 24 de agosto, e em uma caminhada na avenida Paulista neste sábado (5), véspera da votação.
Em sua segunda candidatura para prefeito de São Paulo — a primeira foi em 2020, quando acabou derrotado por Bruno Covas (PSDB) no segundo turno –, Boulos tem como vice a ex-prefeita Marta Suplicy, que retornou ao PT numa costura de Lula para ocupar a vaga. Ela integrou a gestão Nunes até o fim do ano passado e acoplou à chapa um discurso de experiência como contraponto à juventude do deputado, de 42 anos, que atuou no poder executivo.
O candidato foi catapultado à vida política pela atuação por mais de 20 anos no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Meses antes do processo eleitoral, ele iniciou uma operação para suavizar a sua imagem, numa tentativa de superar os adjetivos de radical e invasor.
As pechas, intensamente exploradas por adversários, foram responsáveis por manter sua rejeição em alta ao longo da campanha — o deputado terminou o primeiro turno com 38% dos eleitores paulistanos respondendo que jamais votariam nele.
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