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Prefeito eleito de Mairinque (SP) pertencia a grupo de extrema direita

Eduardo Thomaz (PL) afirma que participou do movimento Ultra Defesa para contribuir com discussões políticas alinhadas ao campo conservador
10/10/2024 | 13h53

Por Lucas Monteiro e Vinícius Barboza

(Folhapress) — Eduardo Thomaz (PL), prefeito eleito de Mairinque, cidade a 65 km de São Paulo, já participou de atividades de um grupo de extrema direita. Denominado Ultra Defesa, o movimento tinha um blog onde defendia ideais ligados ao neointegralismo.

De acordo com seção de apresentação no blog, o grupo era adepto da “saudação romana”, utilizada por fascistas italianos durante a Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, por integralistas brasileiros.

Além disso, alguns seguidores do blog tinham fotos de perfil com suásticas e nomes de usuários com códigos que supostamente fazem referências ao neonazismo.

Um dos usuários usava o nome “carecaWP”, sigla que supostamente faz apologia ao supremacismo branco. WP, tido como código para “white power” ou “white pride”, na tradução do inglês, significaria “poder branco” ou “orgulho branco”, segundo a Conib (Confederação Israelista do Brasil). Na foto de perfil do usuário “carecaWP”, é possível ver uma suástica dentro de uma cruz.

Outro seguidor do blog se chamava “Deusdaguerra88”. O número, também de acordo com a Conib, é tido como um aceno ao neonazismo, “em referência à oitava letra do alfabeto, para significar ‘Heil Hitler'”, saudação a Adolf Hitler. Na foto de perfil, vê-se uma “roda do sol”, símbolo nórdico.

Um terceiro seguidor utilizava uma bandeira LGBTQIA+ com um símbolo de “proibido” ao redor. O blog não é mais atualizado, mas segue no ar.

Eduardo Thomaz, prefeito eleito da cidade de Mairinque (Foto: Reprodução/Youtube)

Thomaz afirma à reportagem que o Ultra Defesa nunca foi neonazista. “Tratava-se de um movimento social de direita, do qual participei exclusivamente para contribuir em discussões políticas alinhadas a essa corrente de pensamento”, diz. “O nazismo é um crime abominável, e, como foi amplamente demonstrado ao longo de toda a campanha eleitoral, minha ficha criminal é limpa, sem qualquer relação com esse viés”.

O recém-eleito também afirma que não tem qualquer envolvimento com grupos de natureza político-ideológica. “Minha dedicação continua firme na defesa da melhoria dos serviços públicos, no desenvolvimento de Mairinque”.

Na página principal do fórum, encontra-se um post de 2012 com críticas à Parada do Orgulho LGBTQIA+ e ao PT, e um link que direciona para um texto em blog com o nome de Thomaz.

Ao longo da campanha deste ano, seus adversários usaram sua ligação com o Ultra Defesa para criticá-lo.

Ele venceu o pleito com 14.861 votos (54,58% dos válidos). Com 50.027 habitantes segundo o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Mairinque não tem segundo turno.

Ligação do prefeito com a extrema direita

Thomaz participou de uma manifestação do Ultra Defesa no vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo) em 2011, que acabou com ao menos seis pessoas presas. Naquela ocasião, disse que o ato foi motivado por “solidariedade” ao então deputado Jair Bolsonaro, criticado por declarações em entrevista ao extinto programa CQC, exibido pela Band.

O prefeito eleito de Mairinque também foi um dos organizadores de carreatas e motociatas a favor de Bolsonaro ao longo de seu mandato no Palácio do Planalto.

Grupo com viés nacionalista, o Ultra Defesa pregava em prol de Deus, do Brasil e da família, ideais ligados ao movimento integralista, tido por especialistas como o fascismo brasileiro. “Entendemos que estes valores supremos edificaram esta nação e devem ser preservados”, diz seção do fórum que apresenta o movimento.

“Prezamos pela ordem e disciplina constantemente reforçados por práticas ritualísticas. Assim, uma de nossas características é a saudação utilizada por nossos membros e simpatizantes: a saudação romana”, afirma o movimento.

“Defendemos o governo dos mais aptos”, diz o site do grupo, “de uma verdadeira elite, virtuosa e viril, capaz de compreender e almejar os destinos superiores da Pátria. Defendemos o que cada etnia, brancos, negros, índios e amarelos trouxeram de aristocrático à nossa formação cultural.” O Ultra Defesa também era contra cotas raciais e a legalização do aborto.

Para Odilon Caldeira Neto, professor de história contemporânea na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e membro do Observatório da Extrema Direita, o Ultra Defesa era um pequeno grupo de extrema direita com traços “neofascistas e, particularmente, neointegralistas”.

“Faz um aceno às ideias basilares do integralismo, com o brasão, o lema Deus, Brasil e Família, a simbologia em verde e amarelo e o uso de uma cruz de ferro como símbolo de autoridade e hierarquia”, diz.

No entanto, o grupo se distancia do campo neonazista, já que “o discurso desse grupo não tinha uma exterioridade assentada na questão racial”, afirma. “Em síntese, tanto neonazistas quanto neointegralistas fazem parte do mesmo campo que é o campo neofascista, e o neofascismo integra o ambiente da extrema direita.”

 

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