Fosse um cordel, o título poderia ser “O triste fim do casamento da oligarquia decadente com a Vênus Platinada”.
Essa também foi a história de uma sociedade entre o senador alagoano Arnon de Mello (pai do ex-presidente Collor) e o empresário carioca Roberto Marinho, sob a bênção da Ditatura Militar — é das mãos do ditador Ernesto Geisel que a família recebe de presente a concessão da TV Gazeta de Alagoas, em 1974.
O momento mais romântico dessa união aconteceu em 1989, quando a equipe de jornalismo da tv Globo manipulou a edição do debate entre Lula x Collor para favorecer o “caçador de marajás” e dono da afiliada global em Maceió.
A confissão da fraude foi feita por José Bonifácio de Oliveira, então diretor da rede de comunicação carioca. O esquema cuidou até de maquiar o candidato da casa para que ficasse com uma aparência mais “suada”, além de uma gravata torta e deselegante, o que passaria a imagem de um político popular — o traço de maior rejeição de Fernando Collor, na comparação com o líder metalúrgico do ABC Paulista, era o jeito de playboy e “filhinho de papai”.
Retirada do álbum de família, a mãozinha na eleição ficou no museu das assombrações políticas da história do Brasil. O rompimento agora é público, conforme noticiou Carlos Madeiro, o excelente repórter do UOL no Nordeste.
A diretoria da Globo cita um motivo para a separação definitiva: a recente condenação do ex-presidente pelo STF, em um esquema de corrupção que utilizou o caixa da TV Gazeta, sua afiliada, para receber propina de uma empreiteira.
A direção da Gazeta, porém, não aceita o fim do contrato, previsto para o dia 31 de dezembro, em pleno Réveillon. Na tentativa desesperada de impedir o desligamento do sinal da Globo, mandou um pedido à Justiça, com a justificativa de que a decisão levaria a emissora alagoana à falência — no momento, encontra-se em processo de recuperação judicial.
Sob o temor de que a medida atrapalhe os seus planos, a cúpula da Globo definiu a reação do clã alagoano como “covarde”.
A tv Asa Branca, retransmissora global em Caruaru, foi o canal escolhido pela rede da família Marinho para substituir a empresa de Collor em Alagoas a partir de 1º de janeiro de 2024. A concessão foi obtida em 1989 (governo Sarney) pelo então deputado federal Inocêncio Oliveira (PFL), um dos sócios-fundadores da emissora no agreste pernambucano.
Pode até parecer uma simples mudança na rotina empresarial da maior empresa de comunicação do país. Nada disso. O episódio conta uma parte da história recente do país. Daria uma série extraordinária, com muita política e entretenimento.
Foi por causa da Gazeta, repare só, que Pedro Collor detonou, em entrevista ao repórter Lula Costa Pinto (revista Veja, 1992), o esquema de corrupção na gestão de Fernando Collor em sociedade com PC Farias – tesoureiro da campanha eleitoral e influente nos bastidores de Brasília.
Pedro administrava a emissora da família quando PC anunciou a criação de uma firma jornalística concorrente, a Tribuna de Alagoas. Dominado pela ira, o irmão caçula entregou o presidente, acusando-o de negócios criminosos, assédio moral e sexual a Thereza Collor (mulher de Pedro) e uso de cocaína. O escândalo abalou o país e levou à queda do primeiro presidente eleito depois da Ditadura Militar.
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