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Xico Sá

Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo). É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

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O trágico fim da relação da Globo com a oligarquia Collor de Mello

Empresa da família Marinho quer cortar sinal da TV Gazeta de Alagoas, afiliada do grupo há 48 anos; novela será decidida pela Justiça
20/11/2023 | 14h14

Fosse um cordel, o título poderia ser “O triste fim do casamento da oligarquia decadente com a Vênus Platinada”.

Essa também foi a história de uma sociedade entre o senador alagoano Arnon de Mello (pai do ex-presidente Collor) e o empresário carioca Roberto Marinho, sob a bênção da Ditatura Militar — é das mãos do ditador Ernesto Geisel que a família recebe de presente a concessão da TV Gazeta de Alagoas, em 1974.

O momento mais romântico dessa união aconteceu em 1989, quando a equipe de jornalismo da tv Globo manipulou a edição do debate entre Lula x Collor para favorecer o “caçador de marajás” e dono da afiliada global em Maceió.

A confissão da fraude foi feita por José Bonifácio de Oliveira, então diretor da rede de comunicação carioca. O esquema cuidou até de maquiar o candidato da casa para que ficasse com uma aparência mais “suada”, além de uma gravata torta e deselegante, o que passaria a imagem de um político popular — o traço de maior rejeição de Fernando Collor, na comparação com o líder metalúrgico do ABC Paulista, era o jeito de playboy e “filhinho de papai”.

Retirada do álbum de família, a mãozinha na eleição ficou no museu das assombrações políticas da história do Brasil. O rompimento agora é público, conforme noticiou Carlos Madeiro, o excelente repórter do UOL no Nordeste.

A diretoria da Globo cita um motivo para a separação definitiva: a recente condenação do ex-presidente pelo STF, em um esquema de corrupção que utilizou o caixa da TV Gazeta, sua afiliada, para receber propina de uma empreiteira.

A direção da Gazeta, porém, não aceita o fim do contrato, previsto para o dia 31 de dezembro, em pleno Réveillon. Na tentativa desesperada de impedir o desligamento do sinal da Globo, mandou um pedido à Justiça, com a justificativa de que a decisão levaria a emissora alagoana à falência — no momento, encontra-se em processo de recuperação judicial.

Sob o temor de que a medida atrapalhe os seus planos, a cúpula da Globo definiu a reação do clã alagoano como “covarde”.

A tv Asa Branca, retransmissora global em Caruaru, foi o canal escolhido pela rede da família Marinho para substituir a empresa de Collor em Alagoas a partir de 1º de janeiro de 2024. A concessão foi obtida em 1989 (governo Sarney) pelo então deputado federal Inocêncio Oliveira (PFL), um dos sócios-fundadores da emissora no agreste pernambucano.

Pode até parecer uma simples mudança na rotina empresarial da maior empresa de comunicação do país. Nada disso. O episódio conta uma parte da história recente do país. Daria uma série extraordinária, com muita política e entretenimento.

Foi por causa da Gazeta, repare só, que Pedro Collor detonou, em entrevista ao repórter Lula Costa Pinto (revista Veja, 1992), o esquema de corrupção na gestão de Fernando Collor em sociedade com PC Farias – tesoureiro da campanha eleitoral e influente nos bastidores de Brasília.

Pedro administrava a emissora da família quando PC anunciou a criação de uma firma jornalística concorrente, a Tribuna de Alagoas. Dominado pela ira, o irmão caçula entregou o presidente, acusando-o de negócios criminosos, assédio moral e sexual a Thereza Collor (mulher de Pedro) e uso de cocaína. O escândalo abalou o país e levou à queda do primeiro presidente eleito depois da Ditadura Militar.

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