ICL Notícias

Por André Graziano*

“O que que aconteceu com Israel e Palestina?” Foi essa a pergunta que o filho de um casal de amigos, prestes a completar quatro anos, fez ao pai e à mãe. E, não, não é história inventada, pois a pergunta foi até registrada em vídeo. A gravação, enviada privadamente pelo pai, veio com uma piadinha recheada de verdade: “Trocar fralda é muito mais fácil”.

A frase jocosa casa bem com a minha realidade: estou na fase de trocar fraldas (muitas, pois tenho um casal de gêmeos de quase 11 meses), mas, por enquanto, não enfrento perguntas difíceis. Essa hora, claro, vai chegar para todos que convivem com crianças. Mas como lidar da melhor maneira possível?

Na redação do ICL, conversei com o colega Xico Sá, pai de Irene, de 7 anos, que concluiu que não dá para manter a criança “a salvo” de notícias ruins: “É impossível. Com essa fartura audiovisual, com todo mundo armado de celular na mão, é impossível ter um filtro 100%. Então, é melhor estar preparado para falar com a criança sobre isso.” E, acredite, ela vai falar.

“É muito comum algumas perguntas desconcertarem os pais. É importante dar uma resposta na linguagem da criança, que é diferente da linguagem dos adultos”, diz a psicanalista infantil Marina Lavrador, mestre em Psicologia Clínica. “Devemos dar respostas a partir da formulação da pergunta e entender como essa questão surgiu.”

O terapeuta familiar Alexandre Coimbra Amaral afirma que uma forma de entender de onde surgiu a questão é fazendo mais perguntas, como indagar o que a notícia está fazendo a criança sentir. Para ele, os pequenos não precisam entender detalhes de tragédias como uma guerra. “A gente deve fazer mais perguntas do que explicar. Se nós ficamos com essas imagens [violentas de guerra] grudadas na cabeça, imagina uma criança.”

A CRIANÇA COMO SUJEITO

Quem tem filhos busca protegê-los de todos os sentimentos negativos possíveis, mas essa é uma missão impossível de ser cumprida. “O que ajuda uma criança a lidar com sentimentos negativos é reconhecê-los e ter recursos simbólicos, de linguagem, para fazer uma construção própria”, explica Marina. Por isso, a fala do adulto deve ser “uma oportunidade para a criança construir as próprias representações e se constituir como sujeito diante disso”.

“Quando falo em dar recursos simbólicos, é a partir das palavras, da narrativas dos adultos, das histórias, dos livros infantis, das brincadeiras. A criança vai poder recolher informações para construir a própria elaboração desse tipo de tragédia”, completa Marina.

Para Alexandre Coimbra Amaral, uma forma de dar suporte para que a criança se coloque como sujeito é estimulá-la a reflexão por meio de perguntas: “Podemos conversar com a criança perguntando: ‘se você tivesse um grande poder para estar lá, para evitar que a guerra continuasse, o que você  faria?’ Porque, aí, colocamos a criança como agente da própria vida, e ela não se sente só apassivada sobre o que a guerra pode fazer com ela”.

 

*André Graziano é jornalista do ICL Notícias

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