A Fundação de Saúde do Rio de Janeiro (FSERJ), órgão vinculado à SES (Secretaria Estadual de Saúde), ampliou o contrato firmado com o Laboratório PCS Saleme, apontado como responsável pela contaminação de pacientes transplantados com o vírus HIV, no final de agosto. É o que mostram documentos obtidos pela coluna.
A ampliação ocorreu por meio de uma espécie de aditivo contratual — um termo de apostilamento — publicado no Diário Oficial em 29 de agosto, dias antes do primeiro caso de recebedores de órgãos contaminados chegar ao conhecimento das autoridades.
De acordo com a documentação analisada pela coluna, a Fundação de Saúde decidiu ampliar o número de unidades de saúde atendidas pelos exames laboratoriais realizados pelo PCS Saleme, o que também elevou o valor do contrato com a empresa.
O contrato passou a incluir duas outras unidades estaduais, o PAM (Posto de Atendimento Médico) de Cavalcanti e o PAM de Coelho Neto, ambos na Zona Norte da capital. Com isso, o valor mensal pago ao laboratório subiu de R$ 816,6 mil para pouco mais de R$ 1 milhão–um aumento de 22,85%.
A renovação indica que a fiscalização de contratos da FSERJ não só deixou de constatar as irregularidades cometidas pelo laboratório e agora investigadas pela Polícia Civil, como avaliou que a empresa estava apta a ter seu vínculo com a saúde do estado ampliado.
Dono de laboratório é primo de ex-secretário
O sócio administrador do PCS Saleme é Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo do deputado federal e ex-secretário de Saúde do Rio Dr. Luizinho (PP-RJ).
Foi sob a gestão de Dr. Luizinho que o PCS Saleme passou a receber contratos com a fundação estadual.
Segundo dados do Portal de Compras do governo do Rio, a empresa recebeu quatro contratos com dispensa de licitação, que somam mais de R$ 2 milhões. Os acordos foram assinados pouco mais de 1 mês depois de Luizinho retornar ao comando da pasta, em janeiro de 2023 –antes ele havia sido secretário no governo Pezão, entre 2016 e 2018.
Dr. Luizinho deixou o cargo em setembro de 2023, atendendo pedidos de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, para assumir a liderança de seu partido na casa. Contudo, manteve a influência sobre a saúde do estado, com diversos aliados em cargos estratégicos na área.
O laboratório PCS Saleme recebeu outro contrato com dispensa de licitação em outubro daquele ano, dessa vez no valor de quase R$ 3,9 milhões. Em novembro, venceu uma licitação para realizar exames laboratoriais para diversas unidades de saúde e para o programa de transplantes do estado, com um contrato de R$ 15,5 milhões –foi nesse vínculo que ocorreram as irregularidades que levaram à contaminação de pacientes transplantados com HIV.
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