Por Laiz Menezes e Bruna Fantti
(Folhapress) – O ginecologista Walter Vieira, um dos sócios do laboratório PCS Saleme, afirmou em depoimento nesta segunda-feira (14) que o transplante de órgãos infectados com HIV para seis pacientes no Rio de Janeiro foi causado por preparação incorreta do exame para detectar a doença e erro na hora de registrar o resultado do teste.
Segundo o advogado Afonso Destri, que faz a defesa do médico, Vieira disse à Polícia Civil que os erros foram cometidos por três funcionários da clínica, sendo que um deles, Ivanilson Fernandes dos Santos, está preso.
O técnico de laboratório Cleber de Oliveira Santos e a técnica em patologia clínica Jacqueline Iris Bacellar de Assis estão foragidos. O laboratório já havia afirmado por meio de nota que um erro humano teria levado à infecção com o vírus HIV em pacientes.
No depoimento desta segunda, Vieira detalhou as supostas falhas. No primeiro laudo, o sócio do laboratório disse que o erro foi causado pelo biólogo Cleber Santos no momento de preparar o exame. Antes de manusear o equipamento que faria o teste de HIV para detectar a doença, ele não teria “zerado” a máquina, o que causou o falso negativo.
O profissional tinha formação e capacidade para assinar e liberar o documento com os resultados, mas a assinatura final é de Vieira. A defesa alegou que os documentos foram assinados porque há vários testes a serem feitos antes de os órgãos serem doados e que o ginecologista assinou somente o exame final.
Profissional teria se enganado em teste de HIV
No segundo laudo, o erro foi atribuído ao responsável técnico pelos laudos, Ivanilson dos Santos. Ele teria se enganado e escrito “negativo” no lugar de “positivo” no teste de HIV. Mas por não ter formação de nível superior, não poderia assinar e liberar o resultado.
A função de checar e assinar o exame feito por Ivanilson era de Jacqueline de Assis, que não teria realizado uma checagem e liberado o laudo com o falso negativo. A profissional, de acordo com o PCS Saleme, apresentou um diploma falso de biomédica no momento da contratação. A profissional nega conhecimento sobre o documento. “O laboratório não sabia que o diploma dela não era verdadeiro, só descobrimos depois da descoberta desses casos”, disse Afonso Destri.
“Se foi cometido algum erro, o erro foi não ter checado a autenticidade do documento apresentado pela Jacqueline.” A clínica enviou o print de uma conversa com Jaqueline em que ela teria enviado o diploma da Faculdade Unopar.
A instituição disse à Folha de S.Paulo que não reconhece o atestado de formação de biomedicina da técnica em patologia clínica. Em entrevista antes de ser declarada foragida, ela disse que começou a trabalhar no local como supervisora administrativa em outubro de 2023 e que não assinava laudos.
Segundo ela, seu nome estaria sendo usado como “laranja”. “Só quem tinha o poder de vincular meu nome a um exame eram eles [os responsáveis pelo laboratório]. Qual o interesse em colocar meu nome como laranja?”, questionou Jacqueline, acompanhada do advogado, José Félix.
Nesta segunda, a Polícia Civil também pegou os depoimentos dos outros dois sócios do laboratório, Matheus e Márcia Vieira, filho e irmã do médico, respectivamente. A Civil informou ainda que o PCS Lab Saleme operava com redução do controle de qualidade para obter lucro. O advogado Afonso Destri negou a informação. “Essa informação, categoricamente, não procede. Sequer isso foi indagado [pela Polícia Civil] ao meu cliente”, afirmou a defesa de Vieira.
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