Igor Mello
A contaminação com o vírus HIV de pacientes transplantados na rede estadual de Saúde do Rio evidenciou a influência do deputado federal Dr. Luizinho (PP-RJ) sobre o setor. O laboratório PCS Saleme, apontado como responsável pelos erros em exames de HIV em órgãos doados, pertence a um primo do político, que foi duas vezes secretário estadual de Saúde.
A gestão de Luizinho como secretário já havia enfrentado outras denúncias de favorecimento de pessoas ligadas a ele com contratos com a Fundação de Saúde do Rio de Janeiro (FSERJ), sempre envolvendo pessoas de Nova Iguaçu, seu reduto político.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) investiga quatro desses contratos.
Dr. Luizinho começou em Nova Iguaçu
Luizinho surgiu na política fluminense por meio de Nelson Bornier, ex-deputado federal e duas vezes prefeito de Nova Iguaçu, um dos maiores municípios da Baixada Fluminense. O cacique nomeou Dr. Luizinho como secretário de Saúde em sua segunda gestão como prefeito, entre 2013 e 2016.
Influente na área de Saúde, Bornier emplacou o aliado como secretário estadual em 2016, no governo Luiz Fernando Pezão (MDB). Dr. Luizinho permaneceu no cargo até meados de 2018 e se cacifou: deixou a secretaria para se candidatar a deputado federal.
Eleito, consolidou sua influência na pasta e fez seu sucessor: em seu lugar, Pezão nomeou o médico Sérgio D’Abreu Gama, que teve dois cargos importantes na gestão de Luizinho: foi assessor chefe de gestão em seu gabinete e presidente do Iaserj (Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro).
Gama permaneceu no cargo até dezembro de 2018, quando a surpreendente vitória de Wilson Witzel na disputa pelo governo reduziu momentaneamente a influência de Dr. Luizinho na saúde do estado.
Witzel entregou a área de saúde ao presidente do PSC, seu partido na época, Dr. Everaldo.
Retorno com Castro
A influência de Luizinho foi restabelecida assim que Cláudio Castro (PL) foi empossado definitivamente como governador, com o fim do processo de impeachment contra Witzel em abril de 2021. Na semana seguinte, Castro rebaixou o então secretário de Saúde, Carlos Alberto Chaves, e colocou em seu lugar o médico Alexandre Chieppe, que já atuava na pasta.
Chieppe é ligado ao PP e foi indicado com o aval de Luizinho para o cargo, em troca do apoio da legenda à reeleição de Castro, em 2022.
“Trabalhamos diariamente juntos, enfrentamos as epidemias da zika e da febre amarela de forma inovadora. Ao longo dos anos de 2020, 2021, eu já estava na Câmara e fui presidente da Comissão de Enfrentamento da Covid-19 do Brasil. Falei com o Chieppe todos os dias. Na saída do Dr. Chaves da SES, a gente precisava de um nome e eu falei para o governador, vou indicar para o senhor uma pessoa que, se eu fosse o governador, seria o meu secretário de estado. E esse é o Alexandre Chieppe. Eu tenho 100% de confiança nele e, ao longo desses anos, ele vem fazendo um ótimo trabalho”, afirmou Luizinho em dezembro de 2022, durante uma homenagem a Chieppe na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).
Dr. Luizinho voltou a ser secretário estadual de Saúde em janeiro de 2023, no início do segundo mandato de Castro, substituindo seu indicado Chieppe.
O político do PP permaneceu no cargo até setembro daquele ano. Empoderado, foi convocado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para retomar o mandato e assumir o cargo de líder do PP na casa. Seu nome chegou a ser especulado como um dos possíveis sucessores de Lira, mas acabou esquecido.
A saída da secretaria não representou o fim do controle da saúde do Rio pelo deputado. Mais uma vez Luizinho indicou sua substituta, a atual secretária, Claudia Mello. A paternidade da indicação dela foi revelada pelo próprio governador Cláudio Castro.
“Só tenho a agradecer ao Dr. Luizinho pelo trabalho realizado em benefício da Saúde do Estado do Rio. Portanto, nada mais natural do que aceitar a sugestão dele de nomear a Dra. Cláudia Mello, seu braço direito, para dar continuidade ao trabalho”, afirmou ele ao nomeá-la.
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