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Chico Alves

Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

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Matar crianças, explodir hospitais? Para alguns jornalistas, se for Netanyahu, tudo bem

Jornal justifica mortes de crianças palestinas ao dizer que elas não teriam morrido se Hamas não tivesse atacado em 7 de outubro
15/11/2023 | 10h57

O tema da vez, escolhido por alguns jornalistas brasileiros para amenizar as atrocidades cometidas por Israel em Gaza, é bater no presidente Lula por ter dito que o governo de Benjamin Netanyahu pratica atos terroristas.

O editorial do indefectível Estadão diz que o presidente distorce os fatos por mero “ranço ideológico da esquerda primitiva”. Usando raciocínio paleolítico do “olho por olho”, o jornal justifica as mortes de crianças palestinas, ao dizer que nenhuma delas teria morrido se o Hamas não tivesse feito o ataque de 7 de outubro. Além disso, repete o argumento de que as forças israelenses matam civis porque o Hamas os faz de escudo.

Por essa lógica, na próxima vez que noticiar um assalto a banco com reféns, veremos o Estadão defender que a polícia os mate para prender os bandidos.

Na Folha, uma colunista criou um check-list sobre terrorismo para tentar desmentir Lula. Se os soldados de Israel não estupram ou decapitam suas vítimas civis, então não são terroristas.

Mesmo que o Exército israelense fosse composto apenas por anjos, esse argumento já seria lamentável (um leitor chegou a ironizar, dizendo que a escriba inverteu a lógica de Maluf: “mata, mas não estupra”).

Mas o pior é que são numerosos os casos em que militares de Israel praticaram violência sexual contra vítimas palestinas. Basta uma busca no Google para que essas informações surjam, de fontes confiáveis. O site Middle East Monitor chegou a noticiar que apenas 2% desses abusos chegam a ser investigados oficialmente.

Há também um site que mais parece porta-voz oficial de Bibi e diariamente antagoniza com a verdade. A distorção chega a ponto de transformar a invasão dos soldados de Israel ao hospital Al Shifa, em Gaza, em incursão beneficente, para levar remédios aos pacientes da unidade.

A devastação de hospitais e escolas, a morte de mais de 10 mil civis e o desaparecimento de outros tantos não deixa dúvida sobre o tipo de benemerência praticada por Israel em Gaza .

Já O Globo cobrou “equilíbrio” de Lula, pois acredita que acusar o Estado de Israel de terrorista pode aumentar o antissemitismo.Se apropria, assim, do argumento falacioso dos sionistas de direita, para quem qualquer critica a Israel tem motivação antissemita.

Por esses veículos de imprensa do Brasil, tudo bem se Netanyahu ordena ataques que matam crianças ou determina que hospitais sejam bombardeados.

Terroristas são os outros.

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