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Morre, aos 79 anos, o poeta Antonio Cicero por eutanásia

O escritor sofria de Alzheimer e se submeteu a um procedimento de morte assistida na Suíça
23/10/2024 | 11h01

O escritor carioca Antonio Cicero morreu na quarta-feira (23) aos 79 anos. Irmão e parceiro da cantora Marina Lima, Cicero ficou muito conhecido pelas letras que escreveu para hits de Marina, como “Fullgás” e “À francesa”. Em 2017, entrou para Academia Brasileira de Letras.

O poeta, que foi diagnosticado com Alzheimer, morreu em Zurique, na Suíça, ao lado de seu companheiro Marcelo. Cicero se submeteu a um procedimento de morte assistida e deixou uma carta (leia abaixo).

Antonio Cicero nasceu no Rio de Janeiro, em 1945. Fez seus estudos universitários de Filosofia iniciais na PUC do Rio de Janeiro e, depois, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ.  Em 1969, transfere-se Londres, onde termina o curso de graduação na Universidade de Londres. Vai para os Estados Unidos fazer pós-graduação em Filosofia Clássica na Georgetown University.

O poeta e ensaísta Antonio Cicero com sua irmã Marina Lima, cantora e compositora (Foto: Rede social)

A escrita de poesia caminhou junto com a atividade docente como professor universitário no Rio de Janeiro. A poesia de Antonio Cicero tornou-se conhecida quando, no final dos anos 1970, sua irmã Marina gravou em disco duas letras escritas em parceria com Cícero: “Fullgás” e “Para começar”, mais uma letra escrita com Claudio Zoli, “À francesa”.

Cicero seguiria parceiro da irmã Marina ao longo de toda carreira da compositora, mas também escreveu letras com Waly Salomão, João Bosco, Orlando Morais, Adriana Calcanhotto e Lulu Santos (co-autor, junto com Antonio Cicero e Sérgio Souza, do hit “O último romântico”, de 1984).

Com o também poeta Waly Salomão (1943–2003), organizou o projeto Banco Nacional de Ideias, ciclo de palestras com artistas e intelectuais de vários campos do conhecimento como João Cabral de Melo Neto, Haroldo de Campos, Bento Prado Júnior, Darcy Ribeiro, Derek Walcott, Tzvetan Todorov e Caetano Veloso entre 1993 e 1995.

Foi autor de livros de ensaios como “O mundo desde o fim” (1995), “Finalidades sem fim” (2005) e “Poesia e filosofia” (2012). Sua obra poética está reunida em quatro volumes: “Guardar” (1996), “A cidade e os livros” (2002), “Livro de sombras: pintura, cinema e poesia (com o artista plástico Luciano Figueiredo) (2010), “Porventura” (2012).

Leia a íntegra da carta de Antonio Cicero

“Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.
Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.

Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.
Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.

Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.
A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas — senão a coisa — mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.

Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo. Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”

 

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