Sim, ciranda eleitoral. Você não leu errado.
A disputa eleitoral de 2024 mostrou o relacionamento entre o desejo de se manter no poder e as atuais exigências do eleitorado. Conforme relatório da Metapolítica Consultoria, dos 87 parlamentares que se lançaram como candidatos, a maioria buscava o cargo de prefeito, com 83 postulantes, enquanto um número menor concorreu a posições de vice-prefeito (4 candidatos) e vereador (4 candidatos). Esse cenário reflete a ambição dos parlamentares de avançar para o comando dos municípios, em vez de recuar para o Legislativo local, indicando uma aposta alta nas eleições municipais como palco de maior visibilidade e longevidade política. Contudo, as expectativas de sucesso não foram alcançadas: particularmente, os 58 já derrotados no primeiro turno expõem a dura realidade e a ineficiência de um sistema eleitoral com eleições quase que ininterruptas.
No primeiro turno, apenas 12 parlamentares conquistaram a confiança necessária para serem eleitos, uma quantidade modesta. Com 17 parlamentares avançando para o segundo turno, o impacto de possíveis derrotas adicionais permanece no horizonte, sinalizando a potencial limitação de cargos conquistados por parlamentares neste ciclo eleitoral de 2024. Esse índice de sucesso baixo possivelmente aponta para um eleitorado mais exigente e talvez até desgastado com a continuidade do processo eleitoral brasileiro. Essa “ciranda eleitoral” contínua descreve uma das afirmações mais seguras da nossa cena política nacional: “todo ano par tem eleição”.
Esse contexto deixa claro que a corrida por posições executivas locais, o cargo de prefeito, está longe de ser uma mera formalidade para os parlamentares. A escolha de se arriscarem nessa arena pode ser lida como uma estratégia de fortalecimento pessoal, de sua imagem e poder de mobilização ou mesmo uma resposta ao desgaste no Legislativo Federal. No entanto, os resultados até agora parecem indicar que o eleitorado tem buscado novos perfis para atender às demandas locais, exigindo dos parlamentares uma reformulação de suas abordagens. Esse panorama não só destaca o peso dos cargos municipais no cenário nacional, mas também reflete uma possível fragmentação de interesses entre as esferas de governo.
A crítica ao modelo eleitoral brasileiro de eleições bienais é inevitável diante da constante movimentação política, que parece mais concentrada na manutenção de mandatos do que na implementação de políticas de longo prazo. A cada dois anos, políticos de diferentes esferas estruturaram campanhas visando manter sua imagem pública em evidência e podendo responder diretamente às demandas eleitorais imediatas. Esse ciclo ininterrupto limita a capacidade de governança e planejamento estratégico, especialmente em um país complexo como o Brasil, onde políticas públicas precisam de continuidade para surtirem efeitos concretos. Como resultado, temos uma lógica que muitas vezes deixa o interesse coletivo de lado em favor de um “planejamento” eleitoral de curto prazo.
Além disso, as eleições a cada dois anos sobrecarregam a máquina pública e os recursos financeiros do Estado. O custo de realização dessas eleições é significativo, e o esforço logístico gigantesco, mobilizando forças de segurança, a Justiça Eleitoral e diversos órgãos públicos em todos os níveis da federação. Esse ciclo bienal impacta diretamente o funcionamento das esferas municipais, estaduais e federal, criando uma “distração eleitoral” que interrompe ou retarda decisões importantes para o andamento do país. Do ponto de vista do eleitorado, esse sistema também tende a esgotar a paciência e a confiança do cidadão, bombardeado constantemente com promessas de campanha que muitas vezes se perdem em meio às transições de mandatos e ao jogo político de curto prazo.
A instabilidade gerada por essa recorrência eleitoral alimenta um ciclo de alianças de conveniência e compromissos que mudam a cada nova disputa, minando a coerência e continuidade dos projetos de governo. Com eleições concentradas em um único ano para todos os cargos, haveria uma janela maior de estabilidade política, na qual os governantes poderiam direcionar suas energias para políticas públicas e diálogo com a sociedade. Tal mudança permitiria que o foco se mantivesse na governança, em vez de dispersar recursos e esforços na preparação para uma próxima disputa eleitoral.
No entanto, no Brasil, o modelo vigente ainda perpetua uma política de curto prazo, onde os parlamentares, mal terminam uma eleição, já começam a pensar na seguinte. Assim, independentemente de quem ganhou ou perdeu em 2024, uma certeza prevalece: muitos desses já estão com os olhos voltados para a próxima eleição (2026).
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