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Chico Alves

Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

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Crianças no Candomblé – Vivências

A vivência de crianças nas religiões de matriz africana se faz a partir de um pertencimento não somente religioso
17/11/2023 | 12h48

A vivência de crianças nas religiões de matriz africana se faz a partir de um pertencimento não somente religioso, mas parte de uma complexa forma de aprendizado, de trocas culturais, sociais e religiosas em que as crianças (omode), são ensinados a aprender e a contribuír como algo que se faz no viver do terreiro por elas também.

Sua educação faz parte de uma rede de interrelações em que a comunidade participa ativamente, onde todos se sentem responsáveis por passarem valores importantes, que irão contribuir na formação delas, já que estas crianças não são somente filhas de seus pais biológicos.

São filhas da comunidade (Egbé)!

A relação de respeito aos mais velhos e consequentemente o sentido de ancestralidade, onde a questão geracional é a todo tempo enfatizada, para que as fases de sua tenra vida sejam entendidas como uma continuidade dos seus antecessores.

O viver no terreiro não deve ser compreendido somente enquanto um fazer ritual, mas também como espaço em que elas podem experienciar que as questões religiosas são parte de uma construção também da ludicidade construída na infância.

O dançar, tocar tambor, entoar cânticos às divindades do candomblé, são partes constitutivas desses ensinamentos que não negam a sua identidade de criança, muito ao contrário, os mais velhos enxergam com bons olhos suas brincadeiras, em que eles  já foram protagonistas. Essas brincadeiras foram os ensinamentos de outrora.

O  principio de ancestralidade continuada com as formas de atuar no terreiro nos dá a certeza da perpetuação e manutenção de nossa cultura e religiosidade, pois com suas maneiras de brincar com os signos de nossa filosofia e cosmopercepção africana do terreiro se constitui toda uma rede de significados que irão compor o futuro sujeito que agora tem o direito de ser criança..

Os orixás e suas características, bem como seus elementos da natureza, também fazem parte destas brincadeiras, já que elas durante suas atividades lúdicas irão narrar com danças, cânticos e ritmos essas histórias que fazem parte do seu dia a dia em coletividade.

Nessas brincadeiras elas convidam novas personagens a virem brincar: ancestrais, animais, árvores, rios e mares, sol, lua e todos que suas mentes (ori) compostas deste mundo perceptivo e constitutivo possam abarcar. Também atuarão trazendo novos atores e atrizes que fazem parte de seu cotidiano, vivenciado, como tios, tias, primas, primos, mães e pais, avôs e avós que compõem sua comunidade e família extensiva.

Sim, família extensiva, pois como disse acima, essas crianças fazem parte da comunidade e é dever e direito de toda a Egbé (comunidade) ser encarregada de cuidar e educá-los.

O aprendizado se dará enquanto um saber fazer, em que os exemplos de um bem viver seja o tom que irá apoiar  formas de ensinar essas crianças, para que possam tornar-se boas pessoas, nutridas de um bom caráter (iwá pelé), e uma boa ética (iwa rere) e orgulho, não somente para sua comunidade e a sociedade,mas para o mundo.

Cuidar, acolher e proteger as crianças de hoje produzirá bons resultados amanhã para a sociedade, para o mundo.

 

 

 

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