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Júri absolve PM que atirou e causou a morte de Ágatha, de 8 anos

Advogado da família da menina: "Vergonha de fazer parte dessa sociedade asquerosa que respalda violência de Estado"
09/11/2024 | 09h50

O Tribunal do Júri do Rio de Janeiro absolveu o policial militar Rodrigo José Matos Soares, acusado de ter matado a menina Ágatha Félix, de 8 anos. O julgamento começou na tarde de sexta-feira (8) e se estendeu até a madrugada deste sábado (9). A morte ocorreu em 20 de setembro de 2019, quando a menina foi atingida por um tiro de fuzil, no Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão, zona norte.

Segundo o advogado Rodrigo Mondego, membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que acompanha a família de Ágatha ao longo dos últimos cinco anos, os jurados confirmaram que o policial foi o autor do disparo que matou a menina, mas decidiram pela absolvição dele. O militar já respondia ao processo em liberdade. O júri era composto por cinco homens e duas mulheres.

Ele lamentou a sentença em uma publicação em suas redes sociais.

“Estou com um sentimento de tristeza e nojo dessa sociedade que aceita mansamente a morte de crianças”, declarou. No texto, Mondego ainda pediu desculpas aos familiares da menina. “Mas o que mais quero é pedir PERDÃO para a família da Ágatha. Perdão pois como profissional, junto com minhas colegas, mesmo dando o nosso melhor, não conseguimos a condenação do réu. Nosso perdão também como sociedade, tenho vergonha de fazer parte dessa sociedade asquerosa que respalda violência de Estado ao ponto de absolver quem é responsável pela morte de uma criança de 8 anos”, escreveu.

Ágatha foi baleada nas costas, quando voltava para casa de kombi com a mãe. O policial alegou que atirou de fuzil contra dois homens em uma motocicleta, achando que se tratavam de criminosos, mas o disparo acertou o veículo onde a criança estava. O inquérito da Polícia Civil confirmou que o projétil que causou a morte da menina veio da arma do militar.

Em dezembro de 2019, o PM foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) por homicídio qualificado. O órgão fez uma investigação própria e concluiu que o cabo atirou e por isso ele se tornou réu e respondia pelo homicídio doloso. Apesar do caso ter acontecido há cinco anos, o processo só começou a ser julgado em 2022 e o júri popular confirmado em abril do ano passado. Em setembro do 2023, a defesa de Soares chegou a entrar com recurso para barrar o julgamento pelo Tribunal do Júri, mas a Justiça entendeu que o processo deveria seguir.

Ao longo do julgamento, foram ouvidos como testemunhas de acusação a mãe de Ágatha, Vanessa Francisco Sales, que detalhou o momento do crime, na volta de um passeio no shopping. O depoimento foi atravessado pela emoção dela e de familiares, que assistiram o testemunho da plateia. No relato, ela reforçou que a comunidade tinha clima tranquilo quando o policial fez os disparos e lembrou que a filha foi socorrida pelo motorista da kombi, porque nenhum policial que estava no local ajudou a criança com mais rapidez.

Além dela, também prestou depoimento, Moisés Atanazio Adriano, motorista da kombi, que ressaltou que a viatura não prestou qualquer auxílio no socorro à vítima. Ele contou que se dirigia ao bagageiro do veículo para tirar bolsas de um passageiro e viu quando o policial militar deu dois tiros em sequência de fuzil na direção de dois homens que passaram em alta velocidade de moto, pelas costas da dupla. “A única coisa que eu vi foi o policial atirando na direção deles. Não tinha operação”, lembrou.

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