“Uma parte de mim pesa, pondera; outra parte delira”.
O poema “Traduzir-se”, do poeta maranhense Ferreira Gullar, parece ter sido feito para o seu conterrâneo Flávio Dino, especialmente no caso da indicação do nome do ministro da Justiça à cadeira do STF.
Para os aliados e admiradores, a divisão também se faz explícita: uma parte comemora a escolha para o Supremo; outra parte acha que perdeu o melhor quadro no Ministério de Lula e um potencial candidato à Presidência da República — a visibilidade no cargo o levaria à disputa em 2026.
Esquerdismo à parte, há também a legião significativa que preferia uma mulher negra para a vaga deixada pela ministra Rosa Weber, mesmo reconhecendo as virtudes políticas de Flávio Dino. A advogada Vera Lúcia Santana Araújo, coordenadora da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, era uma das excelentes opções nesse debate.
Na cerimônia das indicações ao STF e à Procuradoria-Geral da República, no entanto, não havia nem cheiro de alguma dúvida ou dilema. Só a macharada ladeava o presidente Lula na foto.
Legenda: uma parte comuna (time do Dino), outra parte carola (equipe Paulo Gonet, o indicado à PGR).
Traduzir uma parte na outra parte tem sido a arte de um Lula equilibrista no embate com os poderes, afinal de contas os nomes precisam passar pelo crivo do Senado. Gonet, porém, parece só vertigem, como atesta seu currículo sintonizado com as causas mais conservadoras da direita.
Uma parte de mim almoça e janta — diria um debochado Dino nos banquetes servidos pelos bolsonaristas nas audiências do Congresso. Outra parte se espanta — com um procurador-geral tão reaça.
Leitor, leitora, que parte lhe toca nessa peleja? Ajude o cronista a decifrar as contradições da política.
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