O Relatório Anual do Desmatamento, feito pelo Mapbiomas, comprova que o agronegócio é o principal responsável pelo desmatamento ilegal no Brasil. Na comparação entre 2020 e 2021, a perda de cobertura vegetal no país cresceu 20% e registrou alta em todos os biomas
O estudo divulgado nesta segunda-feira (18) aponta que a agropecuária provocou 97% da perda de vegetação nativa, principalmente na Amazônia, que concentrou 59% da área desmatada no período, seguida por Cerrado (30%) e Caatinga (7%).
A destruição do agronegócio se concentrou em duas regiões onde a sociobiodiversidade tem sido rapidamente transformada em pasto, commodities agrícolas e especulação fundiária. Ambas se consolidaram como polos agropecuários durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
A primeira é na Amazônia, nas fronteiras entre Amazonas, Acre e Rondônia. A região conhecida “Amacro” foi palco de 12,2% de toda a derrubada no Brasil em 2021. No Cerrado, o foco é o “Matopiba”, junção das siglas de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde fica 23,6% do total desmatado.
“Os números mostram a prevalência e a estabilidade no nível de pressão da agropecuária nos últimos três anos, quando a atividade foi responsável por percentuais de desmatamento acima de 97%”, diz trecho do estudo.
É a primeira vez que o relatório anual do Mapbiomas identifica quais as atividades relacionadas à devastação ambiental. Atrás da agropecuária (97%), as causas principais foram o garimpo (0,5%), a expansão urbana (0,4) e a mineração (0,1%).
O agronegócio desmata
No discurso oficial, as gigantes do agronegócio garantem fazer de tudo para bloquear a compra de gado de fazendeiros que desmatam fora da lei.
Mas investigações policiais, de ONGs e da imprensa têm provado que legalidades e ilegalidades convivem no interior das mesmas cadeias produtivas do setor.
No ano passado, uma auditoria do Ministério Público Federal (MPF) concluiu que um terço do gado comprado pela JBS no Pará teve origem em áreas derrubadas ilegalmente pelo agronegócio.
A maior processadora de carnes do mundo descumpriu acordos internacionais e continuou comprando carne de 144 fazendas onde há desmatamento ilegal, segundo a ONG Global Witness.
Invasão de terras indígenas
O lucro alto garantido pela JBS a seus fornecedores alçou o Pará a líder histórico no ranking estadual de desmatamento. Não é por acaso que as três Terras Indígenas (TIs) mais devastadas do país estejam em território paraense.
No ano passado, a atividade ilegal se concentrou nas TIs Apyterewa (8,2 mil hectares derrubados), Trincheira Bacajá (2,6 mil hectares) e Cachoeira Seca (2 mil hectares), segundo o Mapbiomas.
As três vivem conflitos territoriais crescentes provocados principalmente por invasões de fazendeiros, mas também de garimpeiros, grileiros e madeireiros.
Entre 2019 e 2021, mais da metade das 573 terras indígenas brasileiras sofreram algum grau de desmatamento.
18 árvores por segundo
Em todos os biomas brasileiros a perda vegetal em 2021 somou 16,5 mil quilômetros quadrados com o agronegócio, o dobro da área abrangida pela Região Metropolitana de São Paulo. Nos últimos três anos, a derrubada foi equivalente ao tamanho do estado do Rio de Janeiro.
O ritmo da devastação também se acelerou. A velocidade média passou de 0,16 para 0,18 hectares por dia. No último ano a Amazônia perdeu o equivalente a 18 árvores por segundo.
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